quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A ROUPA DO REI

(drummondiana)

Estamos gastos sim estamos  
gastos 
O dia já foi pisado como devia  
e de longe nosso coração  
piscou na lanterna sangüínea dos automóveis  
Agora os corredores nos deságuam  
neste grande estuário  
em que os sapatos esperam 
para humildemente conduzir-nos a nossas casas 

Em silêncio conversemos

Que fazer deste ser  
sem prumo  
despencado do extremo de um dia e  
que o sono não recolheu?

Não não indaguemos 
Para que indagar matéria de silêncio  
Procurar a nenhuma razão que nos explique  
e suavemente nos envolva  
em suas turvas paredes protetoras 

Nada de perguntas 
A campânula rompeu-se 
O instante nos ofusca

A quem sobra olhos resta ver  
um ser nu a vida pouca  
Só dentes e sapatos  
de volta para casa

Nem um passo à frente  
ou atrás 
De pés firmes 
o corpo oscilante  
neste suave embalo da mágoa  
descansemos


Francisco Alvim

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