domingo, 26 de janeiro de 2014

PSICOPATIA E PSICOSE

(...) Como dito acima, a psicopatia se aproxima da psicose por causa do problema do eu. O eu é atingido na psicose e se quebra, retirando do paciente a capacidade de autonomia e de se instalar num universo simbólico, que é o próprio mundo social. No psicopata, não. Ele costuma estar integrado (às vezes até promovido) às relações interpessoais pois o eu é mantido às custas de profundas identificações com as linhas de sociabilidade, entre elas o próprio eu. Curiosa redundância essa do psicopata. Identificar-se consigo mesmo. Ora, o eu não é uniforme, não tem uma forma única e imutável. Ele é tão apenas um “precipitado de identificações” como figuras que representam linhas institucionais. Desse modo, pode-se afirmar que o eu é fragmentado como característica inerente à natureza da sua própria formação. O esforço, se é que assim podemos dizer, do psicopata, é o de tentar unificar o eu em torno de alguma transcendência que pode ser a Religião entre tantas outras. O eu é uma ficção, mas uma “ficção real” que solda os elementos psíquicos em torno de um caráter  assumindo o comando das ações. No entanto, a fronteira clínica entre a psicopatia e a psicose pode se tornar muito tênue no momento em que o eu for esvaziado das instituições que o preenchem em ações pragmáticas e cognitivas. Ressoa sem parar a pergunta “Quem sou?” com respostas imediatas e automáticas. Mas isso pode rachar. No caso religioso, o desmoronamento é devastador, podendo emergir formas clínicas de psicoses com forte teor paranóide. A crença religiosa talvez seja a maior das crenças porque opera com valores absolutos. Daí a sua “tendência” ao delírio paranóide, oscilando entre os pólos de hetero-perseguição (“você é um ímpio e por isso será castigado) e auto-perseguição (“querem me pegar porque sou um crente e praticante da Bíblia”).Esta é uma bipolaridade que atravessa o pensamento ocidental, marcado pelo ideário judaico-cristão. Mas, não discutiremos esse viés histórico-antropológico, permanecendo na clínica, que é o Encontro com o paciente  e as possibilidades de trabalhar modos de subjetivação fora das linhas estabelecidas pelas instituições repressivas.
(...)
A.M.  (trecho de artigo em elaboração)

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