segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CASTAÑEDA E DON JUAN - RELATOS DE PODER

Se toda a nossa experiência do mundo é a recordação, então não é assim tão absurdo concluir que um feiticeiro possa estar em dois lugares ao mesmo tempo. Não é o caso do ponto de vista da percepção dele, pois, para experimentar o mundo, o feiticeiro, como qualquer outro, tem de recordar o ato que acaba de praticar, o acontecimento que acaba de presenciar, a experiência que acaba de viver. Em sua consciência, só há uma recordação. Mas para um estranho, olhando para o feiticeiro, pode parecer que o feiticeiro está representando dois episódios diferentes ao mesmo tempo. O feiticeiro, porém recorda-se de dois instantes únicos e isolados, porque a cola da descrição do tempo não o prende mais.

Existem três tipos de maus hábitos que usamos repetidamente quando nos defrontamos com situações desconhecidas na vida. Primeiro, podemos não levar em consideração o que está acontecendo ou já aconteceu, e sentir que nunca aconteceu. Isso é o método do fanático. Segundo, podemos aceitar tudo pelas aparências e sentir que sabemos o que se está passando. Esse é o método do devoto. Terceiro, podemos ficar presos a um fato porque não conseguimos desprezá-lo, nem conseguimos aceitá-lo totalmente. Esse é o método do tolo. O seu método? Existe um quarto, o correto, o método do guerreiro. Um guerreiro age como se nada tivesse acontecido, jamais, porque não acredita em nada, e, no entanto aceita tudo pelas aparências. Aceita sem aceitar e despreza sem desprezar. Nunca acha que sabe, nem sente que nada aconteceu. Age como se estivesse controlado, mesmo que esteja tremendo por dentro. Agir desse modo desfaz a obsessão.

Você deve cultivar a idéia de que um guerreiro não precisa de nada. Você tem tudo o que é preciso para a viagem extravagante que é a sua vida. A verdadeira experiência é ser um homem e o que conta é estar vivo; a vida é um desviozinho que estamos seguindo agora. A vida em si é suficiente, auto-explicativa e completa. Um guerreiro compreende isso e vive de acordo; portanto, pode-se dizer, sem presunção, que a experiência das experiências é ser um guerreiro.
(...)


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