DE VOLTA AO FUTURO
O fracasso do pan-racionalismo socialista não pode ser explicado apenas por razões
históricas e empíricas. Sua razão profunda é ontológica: é ontologicamente que a
utopia marxiana que faz coincidir trabalho funcional e atividade pessoal é
irrealizável na escala dos grandes sistemas, pelo fato vidente de que o
funcionamento da megamáquina industrial-burocrática exige uma subdivisão das
tarefas que, uma vez instalada, perpetua-se e deve perpetuar-se por inércia, afim de
tornar fiável e calculável a funcionalidade de cada uma das engrenagens humanas.
A definição e a repartição as tarefas parciais são, portanto, determinadas pela
matriz material, transcrita no organograma, da megamáquina que se quer fazer
funcionar. É rigorosamente impossível, depois retraduzir tal funcionalização das
atividades heterodeterminadas em termos de colaboração social voluntária. Ao
contrário, a integração funcional dos indivíduos exclui sua integração social: a
predeterminação funcional e suas relações os impedirá de tecer elos recíprocos
fundados sobre a cooperação que visa a finalidades compartilhadas conforme
critérios compartilhados. Ela impedirá que vivam a execução de sua tarefa como
cooperação e pertencimento a um grupo.
(...)
André Gorz in Adeus ao proletariado
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