O SISTEMA CAPITALISTA
Este panfleto é um excerto do ensaio O Império Knuto-Germânico e a Revolução Social,
e está incluído em The Complete Works of Michael Bakunin [As Obras Completas de Mikhail
Bakunin] com o título de “Fragment” [“Fragmento”]. Partes do texto foram originalmente
traduzidas para o inglês por G. P. Maximoff, para sua antologia de escritos de Bakunin, e as
partes faltantes foram traduzidas por Jeff Stein, a partir da edição espanhola, que tem tradução
de Diego Abad de Santillán (Buenos Aires, 1926) vol. III, pp. 181-196.
Será necessário repetir aqui todos os argumentos irrefutáveis do socialismo, que até agora nenhum economista burguês conseguiu contestar? O que é a propriedade, o que é o capital em sua presente forma? Para o capitalista e para o detentor da propriedade, eles significam o poder e o direito, garantidos pelo Estado, de viver sem ter de trabalhar. E, uma vez que nem a propriedade, nem o capital produzem qualquer coisa se não forem fertilizados pelo trabalho, isso significa o poder e o direito de viver à custa da exploração do trabalho alheio, o direito de explorar o trabalho daqueles que não possuem propriedade ou capital e que, portanto, são forçados a vender sua força produtiva aos afortunados detentores de ambos. Note que eu não levei em consideração a seguinte questão: de que forma a propriedade e o capital foram cair nas mãos de seus atuais detentores? Essa é uma questão que, quando analisada a partir do ponto de vista da história, da lógica e da justiça, não pode ser respondida de qualquer outra forma senão como uma acusação contra os atuais proprietários. Vou deter-me aqui, então, à afirmação de que os detentores da propriedade e os capitalistas, não vivendo de seu próprio trabalho produtivo, mas da obtenção do aluguel de terras, casas, lucros sobre seu capital, da especulação sobre a terra, prédios e capitais, ou pela exploração comercial e industrial do trabalho manual do proletariado, vivem todos à custa do proletariado. (Especulação e exploração, sem dúvida, constituem também uma forma de trabalho, mas, em geral, tratam-se apenas de trabalho não-produtivo).
Eu não tenho dúvidas de que este modo de vida esteja altamente difundido em todos os países civilizados, de que ele seja expressa e fragilmente protegido por todos os Estados e que os Estados, religiões e todas as leis jurídicas, tanto criminais quanto civis, e todos os governos políticos, monarquias e repúblicas – com seus imensos aparatos judiciais e policiais e seus exércitos permanentes – não têm outra missão senão a de consagrar e proteger tais práticas. Na presença dessas autoridades poderosas e respeitáveis, eu não posso sequer permitir-me questionar se esse modo de vida é legitimo do ponto de vista da justiça, liberdade, igualdade e fraternidade humanas. Eu simplesmente me pergunto: sob tais condições, serão possíveis a fraternidade e a igualdade entre o explorador e o explorado, serão a justiça e a liberdade possíveis para o explorado?
Suponhamos ainda que, como tem sido sustentado pelos economistas burgueses, e junto com eles todos os advogados, todos os veneradores e fiéis ao direito jurídico, todos os sacerdotes dos códigos civil e criminal – suponhamos que essa relação econômica entre o explorador e o explorado seja legítima como um todo, que essa seja a conseqüência inevitável, o produto de uma eterna e indestrutível lei social e, ainda, que seja verdade que essa exploração sempre impedirá a fraternidade e a igualdade. É evidente que isso impede a igualdade econômica. Suponha que eu seja seu empregado e que você seja meu empregador. Se eu ofereço-lhe meu trabalho pelo menor preço, se eu permito que você viva do meu trabalho, isso certamente não se deve à minha devoção ou amor fraternal por você. E nenhum economista burguês atrever-se-ia dizer o contrário, não importando o quanto seu pensamento torne-se idílico e crédulo quando se trata de afeições recíprocas e relações mútuas que deveriam existir entre empregadores e empregados. Não, eu o faço porque minha família e eu morreríamos de fome se eu não trabalhasse para um empregador. Portanto, sou forçado a vender a você meu trabalho, pelo menor preço possível, e sou forçado a fazê-lo sob a ameaça da fome.
(...)
Mikail Bakunin, extraído do blog FARJ - Federação Anarquista do Rio de Janeiro
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