sábado, 30 de abril de 2016

RETRATO EM BRANCO E PRETO

A tragédia da ciclovia, uma obra de R$ 45 milhões que havia sido classificada como legado olímpico e cartão-­postal dos Jogos, é um retrato 3x4 da esculhambação do país. Ali, naqueles metros que desabaram três meses após a inauguração, em 17 de janeiro, estão reunidos muitos pecados capitais. Não foi só crime de homicídio, com a morte de duas pessoas inocentes, diante de uma das vistas mais belas do Brasil, na Avenida Niemeyer.

Pedalamos num mar de crimes de responsabilidade, num deserto de homens públicos (e mulheres públicas) decentes. Não sabem o que é decoro, recato, pudor – ou compromisso. Na queda da Ciclovia Tim Maia, a ressaca é a única inocente. Análises de primeira hora apontam negligência no projeto. Possível corrupção e superfaturamento. Imperícia. Falta de estudos sobre o impacto das ondas num costão. Falta de fixação da pista às vigas. Falta de uma das duas vigas que constavam no projeto da Geo-Rio! Falta de sistema de prevenção por não interditar a ciclovia em dia de ressaca. Falta de nomes assinando o projeto. Falta de fiscalização. Falta de parafusos!

Não é isso que vivemos em grande escala no país? Uma ressaca moral de imensa magnitude. Uma onda excepcional de corrupção que mina as contas públicas, os serviços públicos, o dia a dia da população, dos ativos e inativos, aposentados e pensionistas. O que se espera de uma gestão responsável? Que esteja apoiada em pilares, assim como a ciclovia.
(...)
Ruth de Aquino, Época, 29/04/2016, 20:43 hs

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