domingo, 24 de abril de 2016

A TEMPESTADE

Vós, montanhas selvagens, das águias
Sublime luto. Nuvens douradas
Fumegam sobre pétreo ermo.
Paciente quietude respiram os pinheiros,
As negras ovelhas junto ao abismo,
Onde súbito o azul
Estranhamente emudece,
O brando zumbido dos zangões.
Ó flor verde
Ó silêncio.

Como em sonho estremecem da torrente selvagem
Escuros espíritos o coração,
Trevas,
Que sobre as gargantas irrompem!
Brancas vozes
Errantes pelos átrios lúgubres,
Terraços destroçados,
Dos pais poderoso rancor, o lamento
Das mães,
Do menino o áureo grito de guerra
E o não-nascido
Gemendo de olhos cegos.

Ó dor, flamejante visão
Da grande alma!
Já estremece na negra confusão
De corcéis e carruagens
Um raio róseo pavoroso
No pinheiro ressoante.
Frescor magnético
Envolve esta cabeça orgulhosa,
Incandescente melancolia
De um deus irado.

Medo, tu ó serpente venenosa,
Negra, morra nas pedras!
Precipitam-se das lágrimas
As correntezas bravias,
Tempestade-misericórdia,
Ecoam em trovões ameaçadores
Os nevados cumes em volta.
Fogo
Purifica noite destroçada. 


George Trakl
(tradução de Modesto Carone Netto)

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