segunda-feira, 18 de abril de 2016

Tambem já fui brasileiro

Eu também já fui brasileiro 
Moreno como vocês. 
Ponteei viola, guiei forde 
e aprendi na mesa dos bares 
que o nacionalismo é uma virtude 
Mas há uma hora em que os bares se fecham 
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta. 
Bastava olhar para mulher, 
pensava logo nas estrelas 
e outros substantivos celestes. 
Mas eram tantas, o céu tamanho, 
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo. 
Fazia isto, dizia aquilo. 
E meus amigos me queriam, 
meus inimigos me odiavam. 
Eu irônico deslizava 
satisfeito de ter meu ritmo. 
Mas acabei confundindo tudo. 
Hoje não deslizo mais não, 
não sou irónico mais não, 
não tenho ritmo mais não. 


Carlos Drummond de Andrade

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