sexta-feira, 22 de abril de 2016

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros

Um comentário:

  1. Eu também uso as palavras para compor meus silêncios. Muitas vezes faço isso inconscientemente. Nem eu mesma percebo, no momento. Só depois, ao longo do processo que as compreendo. Por que colorir " o cérebro mente" ? Porque tá tudo cinza.
    Tem material inédito no inconsciente que precisa sair do mundo virtual para o mundo real, ressignificado. Só depois.disso, a verdade poderá ser publicada. Não dá pra saber o que ainda tem lá dentro. É preciso astucia e coragem para enfrentar essa guerra. O cérebro continua mentindo.
    Quem sabe a publicação não tenha sido mais uma técnica! !!
    Eu também fui aparelhada para gostar de passarinhos. Inspiram-me a voar.




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