COMO DESEJAR?
(...) (...) O real não é impossível, pelo contrário: no real tudo é
possível, tudo se torna possível. Não é o desejo que exprime uma falta molar no
sujeito, é a organização molar que tira ao desejo o seu ser objectivo. Os revolucionários,
os artistas e os profetas limitam-se a ser objetivos, simplesmente objetivos:
sabem que o desejo envolve a vida com um poder produtor, e que a reproduz
intensamente, precisamente porque precisa pouco dela. E tanto pior para aqueles
que acreditam que isto é fácil de dizer, ou que é uma ideia livresca. «Das poucas
leituras que tinha feito, concluíra que os homens que mais se embrenhavam na
vida, se ajustavam a ela, que eram a própria vida, dormiam pouco, comiam pouco,
tinham poucos bens, se é que os chegavam a ter. Não tinham ilusões a respeito
do dever, da procriacão, dos fins limitados da perpetuação da família ou da defesa
do Estado ... O mundo dos fantasmas é aquele que não acabámos de conquistar.
É um mundo do passado, não do futuro. Caminhar agarrado ao passado é arrastar
consigo os grilhões do forçado". O profeta em pessoa é Spinoza vestido à
revolucionário napolitano. Sabemos bem donde vem a falta - e o seu correlativo
subjectivo, o fantasma. A falta é arrumada, organizada, na produção social.
É contraproduzida pela instância de antiprodução que se rebate sobre as forças
produtivas e se apropria delas. Nunca é primeira: a produção nunca é organizada
em função de uma falta anterior mas é, sim, a falta que se aloja, se vacualiza, se
propaga, segundo a organização de uma produção prévia . É arte de uma classe
dominante, essa prática do vazio como economia de mercado: organizar a falta na
abundância de produção, fazer vacilar rodo o desejo pelo grande medo de falhar,
fazer depender o objecro de uma produção real que se supõe exrerior ao desejo (as
exigências da racionalidade), enquanto a produção do desejo passa para o fantasma
(e só para o fantasma).
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in O anti-édipo
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