A psiquiatria biológica, versão século XXI, padece de uma condição de impossibilidade epistemológica e institucional para chegar ao paciente, ou, dito de outro modo, às multiplicidades que o constituem como Vivência. O fato de que ele, com seus problemas, suas doenças, seus transtornos, seus sintomas, por vezes melhorar, não invalida tal assertiva, ao contrário. Isto porque, "melhorar", na acepção biomédica, significa sobretudo adaptar-se às condições socio-institucionais estabelecidas. Normalizar modos singulares de subjetivação é tarefa dos aparelhos psiquiátricos exercida por meio de equipamentos de poder: o diagnóstico cidológico, o psicofármaco, o laudo neurocientífico, a semiologia comportamental, e, não menos importante, a aliança da psiquiatria com instituições presentes e atuantes na cena do exame: o direito, a polícia, a religião, a escola, a família, etc. Quase todo psiquiatra é um pouco juiz, policial, sacerdote, professor ou pai... Assim, ao não levar em conta os mil afetos (materialidade da vivência) e sim os sintomas que o paciente traz, a psiquiatria, sob a caução do positivismo neurocientífico, produz o aniquilamento consentido do desejo. Restam sinapses aflitas...
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