PARA ALÉM DOS PSICOFÁRMACOS
Há uma crítica do senso comum médico ao uso de psicofármacos em excesso, à associação de vários psicofármacos num único paciente, ao perigo dos efeitos colaterais e/ou adversos, à prescrição do psicofármaco errado, à iatrogênese psicofarmacológica, enfim, todas críticas pertinentes, mas superficiais. Elas não atingem o cerne do problema. Qual é? Ora, o problema são problemas. Todos eles confluem para a questão do diagnóstico psiquiátrico, já que este, implícitamente, diz conhecer o transtorno de que é portador o paciente. No entanto, o transtorno não é doença e sim um sintoma, e o paciente não é escutado, exceto como possível linha subjetiva de confirmação da grade nosológica. É que o diagnóstico psiquiátrico (que nada tem de científico, ao contrário) é precedido por relações institucionais (de poder) que trazem embutida a marca e o efeito da moral vigente. Assim, somente criticar o uso inadequado, desastrado, incompetente e até mesmo violento dos psicofármacos, é conceitualmente raso porque se restrige à técnica psiquiátrica, passando ao largo de um pensamento ético-político, única via para se chegar ao paciente como singularidade.
A.M.
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