SALEEM HADDAD - Trecho de entrevista
ÉPOCA – Em um artigo publicado pelo site Daily Beast o senhor escreveu “Queers árabes enfrentam uma luta dupla: enquanto nós lutamos contra as forças opressivas dentro de nossas próprias comunidades, nós também estamos resistindo à narrativa global que tenta usar nossa ‘opressão’ para atingir objetivos militares e políticos”. Pode explicar em que sentido?
Haddad – Não é segredo que em muitos países do Oriente Médio e em países árabes, como em todo o mundo, nós temos problemas com homofobia, misoginia e o patriarcado. Nós, queers [termo oriundo do inglês e antes considerado um xingamento dirigido a gays. Hoje, serve para designar pessoas cuja orientação sexual ou identidade de gênero não corresponde ao padrão heterossexual ou a seu sexo biológico – o conceito busca abarcar gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros] árabes, e as mulheres também, estamos lutando contra essas estruturas patriarcais e homofóbicas em nossos países. O desafio é que, para jovens árabes com minha idade, com seus 20, 30 anos, os ataques de 11 de setembro de 2001 se tornaram um grande marco em nossas vidas e tudo o que veio depois disso nos abalou. Depois do 11 setembro, quando teve início a invasão americana do Afeganistão, uma grande parte do objetivo declarado foi a libertação das mulheres afegãs. Havia essa ideia de que os Estados Unidos iriam até lá para salvar as mulheres do Oriente dos homens do Oriente. Tornou-se muito difícil para as mulheres ativistas se colocarem contra o patriarcado em sociedades árabes e muçulmanas, mas ao mesmo tempo elas não queriam que sua luta fosse cooptada em prol dos objetivos militares do governo dos Estados Unidos. Agora, mais recentemente, tem havido uma lenta instrumentalização do mesmo tipo, em relação aos homossexuais no Oriente Médio. A mídia ocidental passou a destacar como o Estado Islâmico atira homens gays do alto de prédios. É o mesmo padrão. Nos ataques de Orlando, por exemplo, os muçulmanos e árabes LGBTQ foram de repente convocados para tentar explicar a homofobia em sociedades muçulmanas ou falar sobre as dificuldades que enfrentam em nossas comunidades. Isso endossa uma narrativa de “barbarismo islâmico”, de que as comunidades islâmicas são bárbaras, quando a realidade é muito mais complexa que isso.
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Teresa Peroca, Época, 01/07/2016, 23:28 hs
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