quarta-feira, 30 de novembro de 2016

À PROCURA DA DIFERENÇA

Em saúde mental,o chamado exame psíquico pode (e deve) ser substituído pelo encontro com o paciente. Isso implica em sair da analogia do psíquico (existencial) com o organismo (exame físico) em prol de uma exposição do técnico aos signos que são expressos pelo Outro. Não é fácil, já que tal método substitui o olhar positivista da ciência por uma escuta pré-intelectual. 

A.M.

LIANNE LA HAVAS - Wonderful


Sonetilho de verão

Traído pelas palavras. 
O mundo não tem conserto. 
Meu coração se agonia. 
Minha alma se escalavra. 
Meu corpo não liga não. 
A ideia resiste ao verso, 
o verso recusa a rima, 
a rima afronta a razão 
e a razão desatina. 
Desejo manda lembranças. 


O poema não deu certo. 
A vida não deu em nada. 
Não há deus. Não há esperança. 
Amanhã deve dar praia.


Paulo Henriques Brito
O POÇO SEM FUNDO

Para o deputado Onyx Lorenzoni, a Câmara desperdiçou uma oportunidade de elevar sua estatura na votação do pacote de medidas anticorrupção. Preferiu rebaixar o pé-direito. “A câmara perdeu uma oportunidade de se reconciliar com a sociedade”, disse Onyx ao blog, na madrugada desta quarta-feira.

O deputado acrescentou: “O que é mais triste é que, entre a população e a corporação, a Câmara optou por olhar para dentro. Ficou com a corporação. Perdeu a chance de recuperar alguma credibilidade. Sai muito menor desse episódio. E os próximos meses serão muito ruins. O risco de abrir uma crise institucional entre Poderes é gigantesca. Judiciário e Ministério Público vão reagir.”

Para Onyx, as emendas que foram penduradas no pacote anticorrupção durante a madrugada “desfiguraram tudo.” Ele enfatizou: “Foi uma destruição.” O projeto seguirá para o Senado. E o relator receia que o texto fique ainda pior depois que passar pelo filtro do Senado.

Do Blog do Josias de Souza,30/11/2016, 06:18hs

URAGAMI GYOKUDÔ


A INVENÇÃO DO DESASTRE
(...)
Cada tecnologia produz, provoca, programa um acidente especifico. Por exemplo: quando inventaram a estrada de ferro, o que foi que inventaram? Um objeto que permitia que você fosse mais depressa, que lhe permitia progredir – uma visão à la Júlio Verne, positivismo, evolucionismo. Ao mesmo tempo, porém, inventaram a catástrofe ferroviária. (...) A invenção da auto-estrada foi a invenção de trezentos carros colidindo em cinco minutos. A invenção do avião foi a invenção do desastre aéreo. Creio que, de agora em diante se quisermos continuar com a tecnologia (e não penso que haverá uma regressão neolítica), precisamos pensar ‘instantaneamente’ a substância e o acidente. 
(...)
Paul Virilio

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Não passo de um mendigo do futebol, ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: - Uma linda jogada pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre - sem me importar com o clube ou o país que o oferece.

Eduardo Galeano
Ele fixaria em Deus aquele olhar verde-esmeralda com uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não obedece. Quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a humildade do cachorro, o gato não é humilde, ele traz viva a memória da liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.
Lembro agora daquela história que ouvi na infância e acreditei porque na infância a gente só acredita. Mais tarde, conhecendo melhor o gato é que descobri que jamais ele teria esse comportamento, questão de caráter. Dizia a história que Deus pediu água ao cachorro que lavou lindamente o copo e com sorrisos foi levá-lo ao Senhor. Pedido igual foi feito ao gato e o que ele fez? Escolheu um copo todo rachado, fez pipi dentro e dando gargalhadas entregou o copo na mão divina. 
Conheço bem o gato e sei que ele jamais se comportaria conforme aquela antiga história. O cachorro, sim, bem-humorado faria tudo o que fez ao passo que o gato ouviria a ordem divina mas continuaria calmamente deitado na sua almofada, apenas olhando. Quando se cansasse de olhar, recolheria as patas no calor do peito assim como o chinês antigo recolhia as mãos nas mangas do quimono. Elegante. Calmo. E mergulharia no sono sem sonhos, gato sonha menos do que o cachorro que até dormindo parece mais com o homem. 
Outro ponto discutível: dando gargalhadas? Mas gato não dá gargalhadas, é o cachorro que ri abanando o rabo naquele jeito natural de manifestar alegria. Os meus cachorros — e tive tantos — chegavam mesmo a rolar de rir, a boca arreganhada até o último dente. O gato apenas sorri no ligeiro movimento de baixar as orelhas e apertar um pouco os olhos como se os ferisse a luz, esse o sorriso do gato. Secreto. E distante. Nem melhor nem pior do que o cachorro mas diferente. Fingido? Não, porque ele nem se dá ao trabalho de fingir. Preguiçoso, isso sim. Caviloso. Essa palavra saiu de moda mas deveria voltar porque não existe definição melhor para um felino. E para certas pessoas que falam pouco e olham muito. Cavilosidade sugere cuidado, afinal, cave é aquele recôncavo onde o vinho fica envelhecendo em silêncio, no escuro. Na cave o gato se esconde solitário, porque sabe do perigo das aproximações. Mas o cachorro, esse se revela e se expõe com inocência, Aqui estou!

Lygia Fagundes Telles

domingo, 27 de novembro de 2016

(...) Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.
(...)
Charles Bukowski

SILVA - 2012 (piano e voz)


PLANALTO

sonhei que estava no inferno
ruas de portas abertas
casas vazias de porta e janela
perdi um amigo ali
havia um homem perdido
não havia ar
mas silêncio

caçávamos
e o inferno era
atravessar um riacho
no bosque espaçado
de talos lisos
nem tão sombrio

caí certa vez
em outra natureza
disseram-me que ficasse
para restituir-me ao leito
escalei um morro alto
de onde me lancei
sobre o vale sem fundo

vida essa diversa sensação
quando se está no âmbito do vórtice


Vera Pedrosa
NÃO HÁ HERÓIS

Às vésperas de fazer 55 anos, que completa no próximo dia 6, o ator Antonio Calloni, conhecido por novelas como Caminho das Índias e Salve Jorge, além da ótima série Justiça, recém-exibida pela Globo, começou a atuar como aquele que talvez seja o seu maior personagem no cinema. Calloni será um dos principais investigadores, e o narrador, do filme sobre a Operação Lava Jato previsto para 2017, Polícia Federal – A Lei É para Todos. Nem por isso, no entanto, o ator cai na tentação de endeusar as figuras que representa. “Não vejo heróis nessa história”, diz, em entrevista por telefone do Rio de Janeiro, para onde retornou depois de filmar cenas na última semana em Curitiba, a sede da operação que transformou em personalidade o juiz Sergio Moro. “Fizemos a cena de uma coletiva de imprensa com os investigadores, uma conversa entre os delegados e a apreensão das coisas que os advogados levavam para os presos da Lava Jato, coisas absurdas como água importada e presunto de Parma.”
(...)
Maria Carolina Maia, Veja.com, 27/11/2016, 10:49 hs

A HORA E A VEZ DO TORCEDOR


SEM FUTURO

Fidel: a Revolução como potência e uma máquina de matar. Castro foi um devir-revolucionário que se tornou uma forma-Estado assassina. Isso é de uma clareza histórica ululante. Daí, os comentários sobre a morte do líder, tão diversos entre si. O essencial é o seguinte: hoje, já não há mais o"futuro da Revolução", aliás, desde os tempos bolcheviques. Ela é tarefa de agora...

A.M.

FABIO CEMBRANELLI


sábado, 26 de novembro de 2016

Conservas


No meio das noites, a noite 
em que se fantasia cometer loucuras: 
a tia tenta o suicídio, 
o primo foge de casa, 
a irmã se prostitui, 
a cunhada sai pela rua, nua, 
o menor incestua... 
Uma noite singular, 
uma noite sem par, 
uma noite só. 
Depois, arrependidos, todos voltam 
a viver dos conselhos da vovó. 


Leila Míccolis
SEM FORMA NEM FUNÇÃO

(...) Criticou-se as formas essenciais ou substanciais de maneiras muito diversas. Mas Espinosa procede radicalmente: chegar a elementos que não têm mais nem forma nem função, que são portanto abstratos nesse sentido, embora sejam perfeitamente reais. Distinguem-se apenas pelo movimento e o repouso, a lentidão e a velocidade. Não são átomos, isto é, elementos finitos ainda dotados de forma. Tampouco são indefinidamente divisíveis. São as últimas partes infinitamente pequenas de um infinito atual, estendido num mesmo plano, de consistência ou de composição. Elas não se definem pelo número, porque andam sempre por infinidades. Mas, segundo o grau de velocidade ou a relação de movimento e de repouso no qual entram, elas pertencem a este ou àquele Indivíduo, que pode ele mesmo ser parte de um outro Indivíduo numa outra relação mais complexa, ao infinito. Há, portanto, infinitos mais ou menos grandes, não de acordo com o número, mas de acordo com a composição da relação onde entram suas partes. Tanto que cada indivíduo é uma multiplicidade infinita, e a Natureza inteira uma multiplicidade de multiplicidades perfeitamente individuada.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs vol. 4

GRANDES ESCRITOS


O meu único arrependimento na vida é de não ser outra pessoa.

Woody Allen
O BURACO
(...)
Embora tenha feito as escolhas políticas, não foi a sociedade, mas os dirigentes que jogaram o Rio neste buraco. De um lado, a exuberância do petróleo, de outro, o estímulo federal para que o estado se endividasse. E, no meio, a corrupção. Não há razão para que ela perca a confiança em si própria. O que faliu foi uma visão política, o que se vive é uma ressaca do petróleo, a descoberta de uma caríssima e incapaz máquina de governo. O corte decisivo nos gastos públicos, a punição dos corruptos, a canalização dos recursos salvos do desastre para a saúde e a educação podem ser um roteiro geral. Sem falar na urgência de manter programas como o aluguel social e restaurante popular.
(...)
Fernando Gabeira, 20/11/2016

GILLES DELEUZE

Inventar a vida

DÓ DE CERVERÓ

Até o ano passado, Nestor Cerveró vivia como um rei. Quando era diretor da área Internacional da Petrobras, recebia só de salário 135.000 reais por mês — sem contar os 40 milhões de reais em propinas que admitiu ter embolsado em menos de dois anos. Morava em uma cobertura de 300 metros quadrados em Ipanema, com vista para o mar, e sua única preocupação financeira era como gastar tanto dinheiro.

Hoje, tudo isso ficou para trás. Com as contas bloqueadas pela Justiça e uma penca de credores batendo à sua porta, ele junta moedas para pagar a multa de 17 milhões de reais imposta pela Lava-­Jato. Ela vence em 1º de janeiro. Se não quitar a dívida, sairá da prisão domiciliar que desfruta desde junho deste ano e voltará para trás das grades.

Sem um tostão, comprou uma briga de família para conseguir o que, nos tempos áureos, considerava troco. Entrou na 12ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio de Janeiro para reivindicar 459.000 reais da herança de seu pai, que estão com sua mãe, Carmem Cerveró Torrejon de Cuñat, de 90 anos, e sua irmã, Mary Carmem Cuñat Cerveró.

Quando o pai morreu, em outubro de 2013, Cerveró escreveu uma carta de próprio punho à família abrindo mão da herança, diz a irmã. Ainda assim, ela relata ter assinado um cheque de 50.000 reais em favor do irmão. Mary confessou a VEJA ter ficado surpresa com a iniciativa de Cerveró de requerer parte na herança neste momento.

A tentativa é um dos caminhos que o agora delator da Lava-Jato busca para juntar dinheiro. Quando fez acordo de delação, ele teve seis apartamentos no Rio confiscados. Pôs todos à venda, mas, com a crise, não conseguiu vender nenhum. A cobertura em Ipanema está no mercado por 9 milhões de reais. Não teve ofertas.

Atualmente, Cerveró cumpre a prisão domiciliar em uma casa em Petrópolis. Além da dívida, problemas mais mundanos o atormentam por lá. Como a região é montanhosa, sua tornozeleira eletrônica perde o sinal de GPS com frequência, o que força os funcionários da Justiça do Paraná a lhe telefonar constantemente para saber se continua no local. Apesar de ele próprio atender o telefone, os agentes pedem que fique no quintal por pelo menos dez minutos, para que o sinal seja restabelecido.

Se não conseguir pagar as dívidas, ao menos esse problema Cerveró não vai mais ter — na carceragem de Curitiba, os agentes poderão vigiá-lo bem de perto.

Ulisses Campbell, Veja.com, 25/11/2016, 20:34 hs

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

MÃOS LIMPAS, CORAÇÕES ASSÉPTICOS

Os banqueiros da grande bancaria do mundo, que praticam o terrorismo do dinheiro, podem mais que os reis e os marechais e mais que o próprio Papa de Roma. Eles jamais sujam as mãos. Não matam ninguém: se limitam a aplaudir o espetáculo.
Seus funcionários, os tecnocratas internacionais, mandam em nossos países: eles não são presidentes, nem ministros, nem foram eleitos em nenhuma eleição, mas decidem o nível dos salários e do gasto público, os investimentos e desinvestimentos, os preços, os impostos, os lucros, os subsídios, a hora do nascer do sol e a freqüência das chuvas.
Não cuidam, em troca, dos cárceres, nem das câmaras de tormento, nem dos campos de concentração, nem dos centros de extermínio, embora nesses lugares ocorram as inevitáveis conseqüências de seus atos.
Os tecnocratas reivindicam o privilegio da irresponsabilidade:
— Somos neutros — dizem.

Eduardo Galeano
SAI, GEDDEL!
Adolescência

minha namorada crê no sonho louco
que ela denomina
amar

eu, como não sei o que é isso,
limito-me a beijá-la
com fúria.


Luiz Olavo Fontes
NON SENSE

No trabalho clínico em saúde mental, a fala do técnico deve evitar o emprego do senso comum e/ou do bom senso. Isso desfiguraria a relação de ajuda, tornando-a mero simulacro de relações de poder como a do juiz ("eu julgo"), a do policial ("eu prendo), a do professor ("eu ensino"), a do sacerdote (eu salvo"), bem como a da família, resumo e condensação das anteriores, o que a psicanálise (arauto do familiarismo) já expôs ad nauseam. Desse modo, o técnico não é mais do que um facilitador dos processos existenciais de expansão da vida  e do aumento da potência de agir, como diria Espinosa. Isso posto, a psicoterapia , como técnica, está ao alcance de qualquer um, desde que ultrapasse a fronteira dos valores instituídos da moral burguesa e institua a ética da alegria no próprio meio (caos) contemporâneo. Tarefa difícil, complexa e inglória, reservada apenas aos que se deixam atravessar por uma espécie de"solidão povoada", um método em que a arte é o que move, o que impulsiona, o que vibra, e o que faz viver sem garantias ilusórias. Trata-se, enfim, de encarar o real.

A.M. 
CALERO GRAVOU TEMER

Depois de acusar a cúpula do governo de tentar pressioná-lo a liberar uma obra de interesse pessoal do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero entregou à Polícia Federal gravações das conversas que teve sobre o assunto com o presidente Michel Temer, com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com o próprio Geddel. Em depoimento à PF, o ex-ministro narrou detalhes de como Temer e seus dois principais ministros teriam tentado forçá-lo a liberar a construção de um prédio residencial em uma região tombada pelo patrimônio histórico em Salvador. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, subordinado a Calero, havia embargado a obra.
(...)
Robson Bonin,Veja.com, 24/11/2011,22:12 hs

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Salmo perdido


Creio num deus moderno,
Um deus sem piedade,
Um deus moderno, deus de guerra e não de paz.


Deus dos que matam, não dos que morrem,
Dos vitoriosos, não dos vencidos.
Deus da glória profana e dos falsos profetas.


O mundo não é mais a paisagem antiga,
A paisagem sagrada.


Cidades vertiginosas, edifícios a pique,
Torres, pontes, mastros, luzes, fios, apitos, sinais.
Sonhamos tanto que o mundo não nos reconhece mais,
As aves, os montes, as nuvens não nos reconhecem mais,
Deus não nos reconhece mais.



Dante Milano

ELLEN OLÉRIA - Nuvem Passageira


A DELAÇÃO DO FIM DO MUNDO

(...)
Do pouco que já veio a público sobre a delação da Odebrecht, é possível reunir uma coleção de superlativos e prever um terremoto político sem precedentes. Só entre os políticos de categoria presidencial, já se sabe que:

– O ex-presidente Lula recebeu favores, como a reforma do seu sítio em Atibaia, no interior paulista. A contrapartida vinha na forma de contratos para a Odebrecht no Brasil e no exterior;

– A ex-presidente Dilma teve uma parte de suas campanhas financiada pelo caixa dois da empreiteira, com pagamentos feitos no exterior ao marqueteiro João Santana. Marcelo Odebrecht também deve relatar um encontro que teve com a então presidente na Cidade do México, em maio de 2015, no qual a advertiu que a La­va-Jato poderia terminar mal para ambos;

– O atual presidente Michel Temer, quando ainda era vice de Dilma, participou de uma reunião com Marcelo Odebrecht no Palácio do Jaburu, na qual pediu uma doação de 10 milhões de reais para o PMDB. O dinheiro foi entregue em espécie ao hoje m­­inistro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha;

– O tucano José Serra, duas vezes candidato à Presidência da República, recebeu 23 milhões de reais para sua campanha ao Planalto em 2010. Parte do dinheiro saiu de contas da empreiteira na Suíça.

Fora da galeria presidencial, o estrago parece quase ilimitado. Em Brasília, já se tornou palpável um clima de pânico em certos núcleos parlamentares, que pressentem o desastre que se avizinha.

“O conteúdo desses anexos é avassalador”, diz um dos advogados que participaram das negociações. Recentemente, durante uma conversa com um interlocutor de Brasília, o sempre contido juiz Sergio Moro fez o seguinte comentário: “Pela extensão da colaboração, haverá turbulência grande. Espero que o Brasil sobreviva”.
(...)

Renato Onofre, Veja.com, 23/11/2016,17:53 hs

Essa grande infelicidade, a de não poder estar só.

Edgar Allan Poe

ALEPO, O HOLOCAUSTO

"Nós esperamos apenas a morte cair do céu" (um cirurgião)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

POR QUE A DEFESA ATACA?
(...)
Neste momento, o advogado José Roberto Batochio, que auxiliava Cristiano Zanin Martins na audiência, tomou a palavra para atacar o magistrado. “(a questão de ordem) É perfeitamente jurídica, o senhor preside, mas não é o dono do processo. Aqui os limites são a lei. A defesa tem direito de fazer o uso da palavra pela ordem, ou o senhor quer eliminar a defesa? E eu imaginei que isso já tivesse sido sepultado em 1945 pelos aliados e vejo que ressurge aqui, nesta região agrícola (*) de nosso país”.

Moro respondeu que a defesa não estava sendo cerceada, que teria seu momento na audiência, mas que a palavra, naquela ocasião, estava com o Ministério Público, que tinha o direito de fazer suas perguntas e produzir suas provas sem ser interrompido. E que tais questões estavam dentro de um contexto. “Esse contexto só existe dentro da cabeça de vossa excelência”, retrucou, Baltochio, fazendo com que Moro cortasse o microfone do advogado e interrompesse a gravação da audiência, que só foi retomada quando os ânimos pareciam mais calmos e a palavra estava, de volta, com o procurador.
(...)

Do ParanáPortal,  Audiência da Lava Jato, 21/11/2016

(*) Pergunta deste blog: refere-se ao estado do Paraná? 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

domingo, 20 de novembro de 2016

O QUE É GUERRA?

O clima na Cidade de Deus segue tenso após os tiroteios e operações policiais que culminaram com a queda de um helicóptero da Polícia Militar, com quatro militares mortos.

A moradora Vivi Salles iria realizar um sarau comemorativo de cinco anos do Poesia de Esquina, movimento criado por ela para reunir poetas da Cidade de Cidade de Deus, ontem, mas teve que cancelar o evento, por causa dos confrontos entre criminosos e policiais na região. A poetiza, que tem 26 anos, disse que nunca havia presenciado tanto tiroteio durante o dia.

— Normalmente era só de madrugada, agora passou a ficar normal ouvir tiros durante as manhãs. Ontem, eu achava que a situação ia se estabilizar depois do meio-dia. Mas o tiroteio voltou com tudo à tarde e perdurou até as 22h. Outro evento cultural além do meu também teve que ser cancelado. Houve uma sequência de tiros muito grande na tentativa de abater o helicóptero — afirmou Vivi.
(...)

Pablo Jacob e Lucas Altino, Globo.com, 20/11/2016, 14:07 hs



ALVARO CASTAGNET


NÃO TORÇA O QUE DIGO

O torcedor de futebol é, antes de tudo, aquele que torce a realidade. Está tomado. Assim, não lhe coloque razões, argumentos lógicos, cautelas na previsão dos fatos, análises intelectuais, discursos assépticos. Nada disso. O torcedor de futebol é, antes de tudo, um apaixonado, louco de amor, por amor e com o amor às cores do seu time. No entanto, o seu objeto não é o time, mas o torcer pelo time. Ele ama o amar. De nada adianta lhe impingir juizos morais ou políticos. Esquece. Simplesmente aceite-o. Ele também é você, claro, travestido em outros assuntos, outros objetos. É você, mesmo e principalmente se não o admite. O torcedor de futebol é um "personagem conceitual". Ele expressa o solo primário da condição humana: afetos para todos, por todos os lados, por todos os poros... experiências de perdição.

A.M.


P.S. - BBMP
Não há somente a desgraça de não ser amado;
há a infelicidade de não amar.
Morremos todos desta desgraça!

Albert Camus

20 DE NOVEMBRO - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


RIO, EU GOSTO DE VOCÊ

O Rio de Janeiro sente as chagas deixadas pela corrupção endêmica e pela irresponsabilidade administrativa sem limites. Gestores se lambuzaram na fartura de recursos do pré-sal, nas concessões irrestritas lançadas de maneira inconsequente na era Lula/Dilma, nos aportes da Copa do Mundo, da Olimpíada, no dinheiro que jorrava sem controle. E fizeram a festa. Quebraram o Estado. Saquearam o cofre. Mandaram às favas qualquer compromisso fiscal. Deixaram de lado o planejamento, a preocupação com provisão para eventuais apertos de caixa. Gastaram descontroladamente e desviaram mais ainda. O cenário mudou. A crise econômica, a crise do petróleo, a crise da instabilidade, a crise-mãe de todas as crises com o impeachment tomaram conta. E eles não estavam preparados. Não reservaram sequer um minuto de preocupação com o avanço do risco. Era tudo uma grande farra. A conta veio. Pesada. Implacável. Deprimente decadência do poder público enxerga-se naquelas paragens, causando estupor no Brasil e no Mundo. Vivem-se dias de caos por ali com arruaceiros organizando rebeliões. Quebra-quebras e confrontos são constantes. Inclusive deserções das forças convocadas a marchar pela ordem. A Cidade Maravilhosa agora é símbolo de uma tragédia prenunciada nas falcatruas, conchavos e fisiologismo de homens públicos que não deram o menor respeito ao voto recebido nas urnas. Dois ex-governadores presos em menos de 24 horas. O atual, Pezão, sitiado, jogando a toalha, perdendo por completo o controle da máquina, à mercê de baderneiros que tentam impor a ideia do quanto pior, melhor. O pacote de austeridade, com restrições agudas, recaiu sobre os servidores e a reação foi grande. Faz sentido. Em um governo marcado por distorções absurdas, privilégios ao Legislativo e ao Executivo são mantidos enquanto trabalhadores têm de pagar o pato. Mordomias de transporte, de subvenção de combustível e até para a compra de mil selos per capita aos parlamentares fluminenses persistem enquanto hospitais, escolas e salários ficam à míngua.
(...)
Carlos José Marques, Isto É, 18/11/2017, 18:00 hs
De Vulgari eloquentia 

 A realidade é coisa delicada, 
de se pegar com as pontas dos dedos. 
Um gesto mais brutal, e pronto: o nada. 
A qualquer hora pode advir o fim. 
O mais terrível de todos os medos. 

Mas, felizmente, não é bem assim. 
Há uma saída - falar, falar muito. 
São as palavras que suportam o mundo, 
não os ombros. Sem o "porquê", o "sim", 

todos os ombros afundavam juntos. 
Basta uma boca aberta (ou um rabisco 
num papel) para salvar o universo. 
Portanto, meus amigos, eu insisto: 
falem sem parar. Mesmo sem assunto. 


Paulo Henriques Britto

sábado, 19 de novembro de 2016

LINHA SÉRGIO CABRAL


O QUE VIRÁ?

O escritor belga Jan-Werner Müller considera a eleição do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos uma ameaça real à democracia. Segundo o cientista político formado pela Universidade Princeton, Trump foi um candidato populista durante toda a campanha. Para ele, populistas são contra o pluralismo de opiniões e a oposição, antíteses da democracia. Não há razão para acreditar, segundo Müller, que Trump mudará no exercício do poder – apesar do discurso mais equilibrado na comemoração da vitória. Para Müller, não há chances de outro Trump surgir em outro lugar do mundo hoje; mas ele influenciará partidos de extrema-direita, que já usam sua vitória como propaganda para suas próprias propostas. “O perigo é a disseminação do movimento de supremacia branca”, diz ele nesta entrevista a ÉPOCA. “Trump é algo sem precedentes na história política moderna de países democráticos.” Müller acaba de lançar What is populism, ainda sem tradução.
(...)
Flávia Youri Oshima, Época, 19/11/2016, 10:00 hs

GRANDES ESCRITOS


Perguntas a H P Lovecraft

Por que sempre as cidades ciclópicas com altas torres de cantaria
negra? Por que formas e cores inimagináveis vindas do espaço, vozes
estaladas ou zumbidas e os cheiros insuportáveis? Por que ventos
frios e pesadelos que são reais? Por que o ignoto nos repugna e por
que o fascínio do repulsivo? Por que mundos perdidos no tempo
anterior ao homem? Por que os Antigos eram sempre superiores, mas
repelentes? Por que algo, sempre, deve calar-se? Por que os reinos
informes da infinitude? Por que sempre as substâncias viscosas e
verdes? Por que Aqueles são ameaçadores? Por que as coisas se
evaporam? Por que a incógnita nos causa horror?

Sebastião Uchoa Leite

AUGUSTO MACKE


AFETOS POLÍTICOS - A ALEGRIA
(...)
Por que ainda pensamos no manifestante e ativista sempre com raiva? Se ele sai às ruas para causar algum tipo de mudança, ele carrega consigo sua esperança e seu desejo de bons encontros! Já dizia Foucault que não é preciso ser triste para ser militante! Ora, sinceramente, os acomodados que ficam em casa e os policiais carrancudos nos parecem muito mais tristes e mal-humorados.

Será que ainda temos condições de enfrentar o que está acontecendo com a leveza que só a alegria pode nos dar? Não estamos mais preocupados com o futuro da revolução, mas sim com um devir-revolucionário. Queremos uma resistência ativa, claro! E se não saímos às ruas, então nosso próprio modo de vida, de expressão, precisa mostrar um projeto de instituição da alegria que se materializa diariamente diante de nosso olhos.

Queremos aliados. Queremos conhecer pessoas, outros pontos de vista, ouvi-los. Já perceberam como nossos laços sociais são uma piada de mau gosto? Onde estão os laços sociais? Atualmente eles acontecem apenas com personagens de novela, jogadores de futebol ou em comentários nas redes sociais. Nossa busca pelo afeto (bio)político da alegria não deve ser confundido com o pão e circo que nos hipnotiza e impede de agir. Se saímos de casa é para dar a cara a tapa, para entrar em contato com a diferença.

Por isso precisamos tomar cuidado porque a alegria da qual falamos é a ativa, não a passiva. Queremos instituir a felicidade, torná-la parte de nosso cotidiano, sermos causa dela. Aqui a diferença entre o prazer que amortece e o desejo que cria conexões e nos alimenta no processo. Estamos falando de uma felicidade que ama pensar, uma alegria racional, um processo desejante que aumenta a capacidade de afetar e ser afetado. A alegria ativa como afeto (bio)político não quer nada mais do que crescer e se multiplicar!

Mas chegam os moralistas com suas leis e conselhos. Nos dizem que a própria alegria é perigosa! Os sentimentos humanos são tomados como imperfeições e vícios, e acusam a natureza humana de ser imperfeita e inconstante. Assim, eles prescrevem regras de conduta e criam normas para controlar nosso comportamento. A Ética de Espinosa segue para além desta concepção: não condenar nem julgar os afetos, mas entendê-los, foi o que buscou o filósofo holandês. Por serem ignorantes do que podem os afetos, eles concluem que a natureza humana é decaída e viciosa. Mas nós sabemos que inconstante é o medo e a esperança que eles nos impõe! A alegria cria raízes fortes que são difíceis de serem arrancadas!
(...)
Rafael Trindade, do blog "A razão inadequada", 17/06/2015
POLÍTICA DA VELOCIDADE
(...)
Comumente se diz que o poder está vinculado à riqueza. Em minha opinião, está, acima de tudo, vinculado à velocidade; a riqueza vem depois. Claro que é verdade que o poder precisa de meios, que adquire esses meios através do entesouramento, da exploração ou de ambos, mas as pessoas esquecem a dimensão dromológica( *) do poder. (...) Aquele que tem a velocidade tem o poder. E tem o poder porque é capaz de adquirir os meios, o dinheiro.
(...)
Paul Virilio in Guerra Pura: a militarização do cotidiano

(*) Relativa à velocidade

IVAN LINS, OSCAR CASTRO NEVES - Samba do Avião


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

Manoel de Barros

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

O controle 

O GRANDE DESMONTE

Dois presos na Operação Calicute têm potencial para causar problemas ao governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão: Hudson Braga e Wagner Jordão. Braga era o homem de confiança do atual governador no núcleo duro do governo de Sérgio Cabral. Ele era subsecretário de Pezão na Secretaria de Obras na gestão de Cabral. Quando Pezão deixou a secretaria, em setembro de 2011, foi Hudson Braga quem assumiu. Wagner Jordão, por sua vez, era conhecido, dentro do governo, como o “maleiro” de Braga. Na petição do Ministério Público Federal, os procuradores afirmam que Wagner Jordão recebia a “taxa de oxigênio” de Hudson. Ou seja, a propina.

Nonato Viega, Época, 18/11/2016, 10:54 hs
Não entendo o porque das pessoas pensarem sempre no pior e não no mais provável, que é pior ainda.

George Carlin

LULA SOBRE SÉRGIO CABRAL / 2013 - Pura emoção !


Caminho sem pés e sem sonhos 
só com a respiração e a cadência 
da muda passagem dos sopros 
caminho como um remo que se afunda. 

os redemoinhos sorvem as nuvens e os peixes 
para que a elevação e a profundidade se conjuguem. 
avanço sem jugo e ando longe 

de caminhar sobre as águas do céu. 


Daniel Faria

PAULA LIMA & SEU JORGE - Cuidar de Mim


VIDA QUE SEGUE

O Sérgio Cabral aparece em fotos já no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Os registros mostram o ex-governador fazendo as poses padrão para todos os presos, com a camisa verde que é o uniforme do sistema penitenciário do Rio. Além disso, é possível ver que o cabelo dele está mais curto: Cabral teve os cabelos raspados ao dar entrada no complexo de Gericinó, informou a Secretaria estadual de Administração Penitenciária. Segundo o órgão, o procedimento é padrão para todos os detentos.
A Seap revelou ainda que Cabral divide com mais cinco internos, numa cela de nove metros quadrados. O cardápio no café da manhã foi pão com manteiga e café com leite. Durante a manhã desta sexta, o ex-governador não havia recebido visitas.
Já Anthony Garotinho está na Unidade de Printo Atendimento (UPA) Dr. Hamilton Agostinho de Castro Vieira, onde foi examinado. Ainda de acordo com a Seap, ele permanece na unidade individual intermediária de tratamento, com monitoramento cardíaco e está sendo acompanhado por um cardiologista da Secretaria.
Com relação às visitas para os dois, a Seap esclareceu que o prazo médio para cadastramento é de 15 dias. Mas eles podem receber uma visita extraordiária, caso ela sejam autorizada - a Secretaria ressaltou que esse procedimento é comum para todos os presos.
Cabral foi preso nesta quinta-feira, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Já Garotinho foi detido no dia anterior, no Flamengo, também na Zona Sul.

Extra, 18/11/2016,13:58 hs

Todos os animais pensam, exceto o ser humano, que fala.

Millôr Fernandes
É PROIBIDO PENSAR!

A "forma-universidade" é um conceito da Análise Institucional que faz pensar a universidade (qualquer uma) como forma de relação social oriunda da Idade Média e "vitoriosa" nos dias atuais. Falamos, pois, de uma subjetividade acadêmica. Quem ousa lhe contestar? Simples: sob o respaldo da verdade científica, ela legitima a Ordem Estabelecida, fingindo que a contesta em teses tão brilhantes quanto inúteis aos devires sociais. Ou seja, delicadamente ela escurraça metamorfoses imperceptíveis, realidades "reais", singularidades, saberes menores. Fabrica a diferença como maldição.E convence! Você já discutiu idéias com um pesquisador? E com um professor? Desista. Trata-se de uma representação esperta da realidade social agenciada pelo Estado-gerente, a dizer: não afirme nada, não arrisque nada, NÃO CRIE, aceite disfarçadamente o que a razão transcendente da Academia esparramou pelas partes mais íntimas do corpo erótico. Diga amém, mas seja doutor em alguma coisa, qualquer coisa. O apoio do ideal cristão, claro, é essencial ao progresso acadêmico. Afinal de contas, foi com e pelo cristianismo que a Universidade nasceu e floresceu.

A.M. 

DMITRI DANISH


GOVERNANTES RICOS, GOVERNADOS POBRES

Além dos indícios de que os investigados estariam tentando destruir provas e esconder recursos ilícitos, a grave crise econômica do Rio de Janeiro sensibilizou o juiz Sergio Moro na hora de ele assinar os mandados de prisão contra o ex-governador Sergio Cabral e seus ex-assessores na 37ª fase da Operação Lava Jato. No despacho, Moro afirmou que seria uma “afronta” deixar em liberdade os investigados usufruindo do “produto milionário de seus crimes”, enquanto a população do Rio sofre com a “notória situação de ruína das contas públicas”. “Por conta de gestão governamental aparentemente comprometida por corrupção e inépcia, impõe-se à população daquele Estado tamanhos sacrifícios, com aumentos de tributos e corte de salários e de investimentos públicos e sociais. Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres”, escreveu o juiz que conduz a Lava Jato em primeira instância em Curitiba. Aliado de Cabral, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) enfrenta dificuldades para aprovar na Assembleia Legislativa um pacote de arrocho para reequilibrar as finanças do Estado. Nesta quarta-feira, pela segunda vez em menos de um mês, o centro do Rio virou palco de confrontos entre o Batalhão de Choque da Polícia Militar e servidores públicos de diferentes áreas que protestavam contra as medidas.
(...)
Eduardo Gonçalves, Blog Maquiavel, 17/11/2016,12:49 hs

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ler o capital
ficou cada vez mais dificil
o mundo está girando ao contrario
o pensamento enlouqueceu
ou enlouqueceram o jornal
não se pode mais
acreditar nos crimes
nem nos assassinos


Sebastião Uchoa Leite

LADRÃO DE VOTOS


CALICUTE

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira a Operação Calicute, um desdobramento da Lava Jato, e prendeu o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. Ele é acusado de chefiar um esquena criminoso que movimentou mais de 200 milhões de reais.

Renato Onofre,Veja.com, 17/11/2016, 06:51 hs

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

DIEGO SANDULLO - A Fala da Paixão


A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife...

Woody Allen
CIVILIZAÇÃO

Oito pessoas foram mortas a tiros entre a noite da terça (15) e madrugada desta quarta-feira (16) no Rio Grande do Norte. Somente na região Metropolitana da capital, foram sete assassinatos: três em Natal, dois em Parnamirim, um em Ceará-Mirim e outro em São José do Mipibu. O oitavo homicídio foi registrado em Mossoró, na região Oeste do estado. Segundo a Polícia Civil, ninguém foi preso. Os casos foram relatados ao G1 pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
(...)
Anderson Barbosa, do G1 RN,16/11/2016, 09:23 hs
chegado para ver as flores,
sobre elas dormirei
sem sentir o tempo


Yosa Buson

GRANDES ESCRITOS


CEMITÉRIO DOS VIVOS

Pacientes amarrados em cadeiras ou na cama, colchões velhos e rasgados, banheiros em péssimas condições, gritos de socorro e até mortes por negligência. São muitas as denúncias contra uma unidade psiquiátrica em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. O G1 teve acesso a fotos e dados sobre a Clínica de Saúde Alfredo Neves, que mostram que, apesar de problemas antigos, a unidade de saúde continua funcionando e em condições precárias para pacientes já fragilizados por sua condição psíquica.
Na sexta-feira (11), a clínica no bairro de Santa Rosa tinha 70 pacientes internados. O ano começou com 88. Onze morreram até o fim de outubro, segundo dados obtidos pela equipe de reportagem – seja na própria casa de saúde ou após serem transferidos para outras unidades –, outros quatro foram transferidos e três tiveram alta.
A clínica, por meio de seu advogado, negou a informação de que 11 pacientes da instituição morreram em 2016, mas não deu mais detalhes. Todas as informações sobre o estado dos pacientes, segundo George Vieira, foram passadas para a Fundação Municipal de Saúde e a Prefeitura de Niterói. Procurada para falar sobre as imagens registradas na unidade, a clínica não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Ainda segundo fontes ouvidas pelo G1, vários pacientes apresentavam quadro de desnutrição, feridas na pele e maus tratos.
"Lá dentro, a vida dessas pessoas não vale nada", disse uma agente de saúde mental sobre a situação dos pacientes.
(...)
Carlos Brito e Henrique Coelho, G1 Rio,16/11/2016, 06:17 hs

terça-feira, 15 de novembro de 2016

O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior.
(...)
Albert Einstein

HIERONYMUS BOSCH


Flagrante

Lágrima na floresta
Testemunha sexo selvagem
Entre a motosserra e a árvore


Luis Turiba
ESQUENTANDO

Pela terceira vez seguida teremos um recorde de calor na temperatura global: 2016 deverá ser 1,2°C mais quente do que o normal. A análise foi apresentada nesta segunda-feira (14), pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), durante a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas em Marrakesh, no Marrocos.

Os dados da OMM mostram com clareza que já estamos vivendo os efeitos do aquecimento global. Segundo a organização, 16 dos 17 anos mais quentes da história foram registrados neste século, e isso é causado pela alta concentração de gases de efeito estufa lançados por fábricas e queimadas na atmosfera.
(...)

Bruno Calixto, Blog do Planeta, Época,14/11/2016, 20:52 hs

JOHNNY ALF - Ilusão à Toa


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Eu me aproximo das pessoas como um ladrão que se aproxima de um cofre, os dedos limados, aguçados, para descobrir, tateantes, o segredo.

Lygia Fagundes Telles
CHOCANTE

A eletrochoqueterapia (ECT), técnica usada (ainda hoje) pela psiquiatria, não tem qualquer base científica. Foi criada em 1937, na Itália, pelo médico Ugo Cerletti, a partir do experimento em porcos anestesiados antes de serem abatidos nos matadouros de Roma. Em seguida, foi usada em larga escala nos antigos hospícios como instrumento de punição, repressão e violência sobre pacientes internados. Apesar desse Horror pregresso, o seu uso pode beneficiar o paciente psiquiátrico em casos extremos, quando já foram esgotados todos os recursos de tratamento. A indicação maior seria (ou deveria ser) as depressões graves, refratárias aos antidepressivos e quando há risco evidente de suicídio. Esta nos parece a atitude clínica mais, digamos, racional, a qual está além e aquém da imagem apenas negativa do Choque (da luta antimanicomial) ou da imagem apenas positiva (da psiquiatria biológica). De todo modo, a questão do eletrochoque nos parece secundária à do Diagnóstico Psiquiátrico, que é secundária à do Poder que é secundária à da Ética. Esquemáticamente, podemos estabelecer a seguinte discussão: 1-Que hipótese diagnóstica indica o uso da ECT? 2-Com que direito (poder) a psiquiatria decide dar choque em alguém? 3- Que potências de vida são ou serão promovidas pela ECT? Ou, ao inverso: que potências de vida são ou serão destruídas pela ECT? Concluindo, a discussão, antes que técnica (clínica), é ético-política. Nesse mister, os sequazes da psiquiatria biológica costumam ser semi-analfabetos. Eles são regidos por um pensamento conceitual raso.

A.M.

GILLES DELEUZE - Abecedário - A loucura de todos nós


Sossegue coração

Sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa


Paulo Leminski
RESISTIR

Donald J. Trump é o presidente eleito dos Estados Unidos. Aí está uma sentença que nunca achei que escreveria.

Contra todas as probabilidades e todas as formas de establishment, ele prevaleceu. Ele venceu de forma legítima, inclusive em muitos Estados que achávamos ser seguramente democratas. Os entendidos e as pesquisas erraram. Havia mais fome reprimida por mudança, assim como também ansiedade racial, étnica e econômica, do que muitos modelos levaram em consideração.

Trump será o 45º presidente deste país. Para mim, é um fato realmente chocante, uma pílula difícil de engolir. Sigo convencido de que se trata de uma das piores pessoas possíveis que poderíamos eleger presidente. Sigo convencido de que Trump tem um caráter fundamentalmente falho e é literalmente perigoso para a estabilidade mundial, assim como prejudicial para a posição dos Estados Unidos no mundo.

Há muito que não consigo compreender plenamente.

É difícil saber especificamente como se posicionar em um país que pode eleger um homem com tamanha inépcia e animosidade escancarada. Isso faz você duvidar de qualquer fé que tinha no próprio país.

Além disso, permita-me deixar claro: o empresário Donald Trump era um intolerante. O pré-candidato Donald Trump era um intolerante. O candidato republicano Donald Trump era um intolerante. Só posso presumir que o presidente Donald Trump será um intolerante.

É absolutamente possível que os americanos o elegeram não apesar disso, mas por causa disso. Considere por um segundo. Pense no que isso significa. Essa é a América no momento: depositando sua sorte em um homem que nomeou um simpatizante da direita alternativa como seu chefe de campanha.

Como posso aceitar o fato de que o presidente já apareceu em um vídeo pornô?

Como posso aceitar o fato de que o homem que nomeará o próximo secretário de Justiça já se gabou de ter abusado de mulheres? Como será o alardeado programa de "lei e ordem" desse presidente para as cidades em uma época em que as comunidades das minorias já suspeitam de agressão policial?

Como posso aceitar o fato de que  um homem que atacou um juiz federal por ser descendente de mexicanos será aquele que nomeará o próximo ministro da Suprema Corte e vários juízes federais?

Não consigo aceitar porque não é possível. Terei que conviver com o absurdo da situação.

Terei que conviver com isso desta forma: eu respeito a presidência, mas não respeito esse presidente eleito. Não posso. Considere-me como integrante da resistência.

Espero que haja áreas onde as pessoas em Washington possam concordar e de fato promover os interesses americanos, mas duvido. Trump fez múltiplas promessas de campanha, promessas que será obrigado a cumprir, que causarão especificamente mal.

Meus pensamentos agora se voltam para as famílias de imigrantes que ele ameaçou deportar e para os muçulmanos que ameaçou barrar, para as mulheres que degradou e àqueles que ele é acusado de ter abusado, para os deficientes aos quais ele aparentemente não se incomoda em zombar.

Meus pensamentos se voltam para os pobres que sofrem com problemas de saúde e que finalmente passaram a receber cobertura médica, às vezes cobertura que pode salvar a vida, e o medo que devem estar sentindo agora que há um presidente comprometido em derrubar a reforma da saúde e substituí-la (por qual opção, não sei), e que conta com um Congresso maleável ao seu dispor.

Quando penso em todas essas pessoas e então penso em todas as que votaram por tornar esse homem presidente, e aquelas que não votaram, portando facilitando o caminho para sua ascensão, não posso deixar de sentir certa raiva. Eu preciso lidar com essa raiva. Mas não quero reprimi-la; quero fazer uso dela.

Passei grande parte da minha vida e definitivamente grande parte do tempo escrevendo esta coluna defendendo as causas das populações vulneráveis. Esse trabalho apenas se tornou mais importante agora. Trump representa um risco claro e imediato e é diante desse risco que coragem e verdade são ainda mais necessárias.

Eu apoio e defendo fortemente uma transferência pacífica de poder neste país e aplaudo o atual governo por fazer o que é certo e normal na América, o que todo governo anterior de saída fez: assegurar que a transferência de poder seja a mais tranquila possível.

Precisamos em certo grau que a presidência Trump seja bem-sucedida, no mínimo para que cause o mínimo dano possível à república, para que os Estados Unidos permaneçam seguros, firmes e fortes durante seu mandato.

Isso não significa que não acredite que Trump seja uma abominação, mas sim que honro uma das marcas de nossa democracia e que sou um americano interessado na proteção da América.

Dito isso, é impossível para mim apoiar um intolerante impenitente. Será impossível para mim ver este homem participando dos cerimoniais e protocolos da presidência sem me recordar de como ele é um demagogo comprovado que também é sexista, racista, xenófobo e um valentão.

Essa é uma pessoa que não é digna de aplauso. É uma pessoa que deve ser colocada sob pressão implacável. O poder deve ser constantemente desafiado. Isso começa hoje.

Charles M. Blow, New York Times,14/11/2016, 06:00hs