domingo, 20 de novembro de 2016

De Vulgari eloquentia 

 A realidade é coisa delicada, 
de se pegar com as pontas dos dedos. 
Um gesto mais brutal, e pronto: o nada. 
A qualquer hora pode advir o fim. 
O mais terrível de todos os medos. 

Mas, felizmente, não é bem assim. 
Há uma saída - falar, falar muito. 
São as palavras que suportam o mundo, 
não os ombros. Sem o "porquê", o "sim", 

todos os ombros afundavam juntos. 
Basta uma boca aberta (ou um rabisco 
num papel) para salvar o universo. 
Portanto, meus amigos, eu insisto: 
falem sem parar. Mesmo sem assunto. 


Paulo Henriques Britto

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