sábado, 19 de novembro de 2016

AFETOS POLÍTICOS - A ALEGRIA
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Por que ainda pensamos no manifestante e ativista sempre com raiva? Se ele sai às ruas para causar algum tipo de mudança, ele carrega consigo sua esperança e seu desejo de bons encontros! Já dizia Foucault que não é preciso ser triste para ser militante! Ora, sinceramente, os acomodados que ficam em casa e os policiais carrancudos nos parecem muito mais tristes e mal-humorados.

Será que ainda temos condições de enfrentar o que está acontecendo com a leveza que só a alegria pode nos dar? Não estamos mais preocupados com o futuro da revolução, mas sim com um devir-revolucionário. Queremos uma resistência ativa, claro! E se não saímos às ruas, então nosso próprio modo de vida, de expressão, precisa mostrar um projeto de instituição da alegria que se materializa diariamente diante de nosso olhos.

Queremos aliados. Queremos conhecer pessoas, outros pontos de vista, ouvi-los. Já perceberam como nossos laços sociais são uma piada de mau gosto? Onde estão os laços sociais? Atualmente eles acontecem apenas com personagens de novela, jogadores de futebol ou em comentários nas redes sociais. Nossa busca pelo afeto (bio)político da alegria não deve ser confundido com o pão e circo que nos hipnotiza e impede de agir. Se saímos de casa é para dar a cara a tapa, para entrar em contato com a diferença.

Por isso precisamos tomar cuidado porque a alegria da qual falamos é a ativa, não a passiva. Queremos instituir a felicidade, torná-la parte de nosso cotidiano, sermos causa dela. Aqui a diferença entre o prazer que amortece e o desejo que cria conexões e nos alimenta no processo. Estamos falando de uma felicidade que ama pensar, uma alegria racional, um processo desejante que aumenta a capacidade de afetar e ser afetado. A alegria ativa como afeto (bio)político não quer nada mais do que crescer e se multiplicar!

Mas chegam os moralistas com suas leis e conselhos. Nos dizem que a própria alegria é perigosa! Os sentimentos humanos são tomados como imperfeições e vícios, e acusam a natureza humana de ser imperfeita e inconstante. Assim, eles prescrevem regras de conduta e criam normas para controlar nosso comportamento. A Ética de Espinosa segue para além desta concepção: não condenar nem julgar os afetos, mas entendê-los, foi o que buscou o filósofo holandês. Por serem ignorantes do que podem os afetos, eles concluem que a natureza humana é decaída e viciosa. Mas nós sabemos que inconstante é o medo e a esperança que eles nos impõe! A alegria cria raízes fortes que são difíceis de serem arrancadas!
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Rafael Trindade, do blog "A razão inadequada", 17/06/2015

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