segunda-feira, 14 de novembro de 2016

CHOCANTE

A eletrochoqueterapia (ECT), técnica usada (ainda hoje) pela psiquiatria, não tem qualquer base científica. Foi criada em 1937, na Itália, pelo médico Ugo Cerletti, a partir do experimento em porcos anestesiados antes de serem abatidos nos matadouros de Roma. Em seguida, foi usada em larga escala nos antigos hospícios como instrumento de punição, repressão e violência sobre pacientes internados. Apesar desse Horror pregresso, o seu uso pode beneficiar o paciente psiquiátrico em casos extremos, quando já foram esgotados todos os recursos de tratamento. A indicação maior seria (ou deveria ser) as depressões graves, refratárias aos antidepressivos e quando há risco evidente de suicídio. Esta nos parece a atitude clínica mais, digamos, racional, a qual está além e aquém da imagem apenas negativa do Choque (da luta antimanicomial) ou da imagem apenas positiva (da psiquiatria biológica). De todo modo, a questão do eletrochoque nos parece secundária à do Diagnóstico Psiquiátrico, que é secundária à do Poder que é secundária à da Ética. Esquemáticamente, podemos estabelecer a seguinte discussão: 1-Que hipótese diagnóstica indica o uso da ECT? 2-Com que direito (poder) a psiquiatria decide dar choque em alguém? 3- Que potências de vida são ou serão promovidas pela ECT? Ou, ao inverso: que potências de vida são ou serão destruídas pela ECT? Concluindo, a discussão, antes que técnica (clínica), é ético-política. Nesse mister, os sequazes da psiquiatria biológica costumam ser semi-analfabetos. Eles são regidos por um pensamento conceitual raso.

A.M.

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