ÀS VOLTAS COM O ABISMO
A psicopatologia clínica, como já foi dito, é atualmente deprezada e/ou vilipendiada pela psiquiatria biológica. Assistimos, sem exagero, a um aniquilamento da pesquisa em psicopatologia em prol da entronização de uma espécie de "pragmatismo comportamental" na avaliação do paciente. Em última instância, a pergunta-chave costuma ser " o paciente está adequado ou inadequado ao convívio social?". Pode parecer simplista, sim, mas é simplista mesmo, toda essa clínica do cérebro guiada pelo neuroreducionismo das formações do poder acadêmico, médico-farmacêutico, industrial, enfim, capitalístico. Eis o ressentimento milenar da História disposto em máscaras astutas: no entanto, para além da sedação cavalar da alegria (como a da criança) linhas infernais do desejo assombram as horas da clínica da histeria como o que não tem nome, tantas são as expressões do "corpo que não aguenta mais". Automutilações, autoflagelações, algias totalitárias ("dói tudo"), movimentos involuntários, náuseas, somatoses generalizadas, sintomas do grito surdo e deslocado da alma inocente das plantas. É então que o técnico em saúde mental se dá conta do megahospicio em que nós, terráqueos, nos metemos.
A.M.
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