SEM FORMA NEM FUNÇÃO
(...) Criticou-se as formas essenciais ou
substanciais de maneiras muito diversas. Mas Espinosa procede
radicalmente: chegar a elementos que não têm mais nem forma nem função,
que são portanto abstratos nesse sentido, embora sejam perfeitamente reais.
Distinguem-se apenas pelo movimento e o repouso, a lentidão e a
velocidade. Não são átomos, isto é, elementos finitos ainda dotados de
forma. Tampouco são indefinidamente divisíveis. São as últimas partes
infinitamente pequenas de um infinito atual, estendido num mesmo plano, de
consistência ou de composição. Elas não se definem pelo número, porque
andam sempre por infinidades. Mas, segundo o grau de velocidade ou a
relação de movimento e de repouso no qual entram, elas pertencem a este ou
àquele Indivíduo, que pode ele mesmo ser parte de um outro Indivíduo numa
outra relação mais complexa, ao infinito. Há, portanto, infinitos mais ou
menos grandes, não de acordo com o número, mas de acordo com a
composição da relação onde entram suas partes. Tanto que cada indivíduo é
uma multiplicidade infinita, e a Natureza inteira uma multiplicidade de
multiplicidades perfeitamente individuada.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs vol. 4
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