HETEROGÊNEOS
(...)
Enfim, devir não é uma evolução, ao menos uma evolução por
dependência e filiação. O devir nada produz por filiação; toda filiação seria
imaginária. O devir é sempre de uma ordem outra que a da filiação. Ele é da
ordem da aliança. Se a evolução comporta verdadeiros devires, é no vasto
domínio das simbioses que coloca em jogo seres de escalas e reinos
inteiramente diferentes, sem qualquer filiação possível. Há um bloco de
devir que toma a vespa e a orquídea, mas do qual nenhuma vespa-orquídea
pode descender. Há um bloco de devir que toma o gato e o babuíno, e cuja
aliança é operada por um vírus C. Há um bloco de devir entre raízes jovens e
certos microorganismos, as matérias orgânicas sintetizadas nas folhas
operando a aliança (rizosfera). Se o neo-evolucionismo afirmou sua
originalidade, é em parte em relação a esses fenômenos nos quais a evolução
não vai de um menos diferenciado a um mais diferenciado, e cessa de ser
uma evolução filiativa hereditária para tornar-se antes comunicativa ou
contagiosa. Preferimos então chamar de "involução" essa forma de evolução
que se faz entre heterogêneos, sobretudo com a condição de que não se
confunda a involução com uma regressão. O devir é involutivo, a involução
é criadora. Regredir é ir em direção ao menos diferenciado. Mas involuir é
formar um bloco que corre seguindo sua própria linha, "entre" os termos
postos em jogo, e sob as relações assinaláveis.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs, vol. 4
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