O ENCONTRO MARCADO
Numa prática clínica da diferença em psicopatologia, o conceito de Encontro é essencial. Ele diz respeito à chance de estabelecer ligações com os afetos que circulam livremente e/ou aprisionados pelas formas sociais (por ex., a de paciente "mental"). No caso da psiquiatria biológica, da terapia cognitivo-comportamental, das psicoterapias regidas pelo senso comum, das psicologias do bom senso, das terapias religiosas, das psicanálises edipianizantes, enfim, das agências psi normatizadoras, os afetos livres (devires) rodopiam no mesmo ponto subjetivo, endurecidos em sintomas prontos a serem eliminados. Há até pacotes comerciais disponíveis para resolução em apenas 3 meses. Confira. Caso haja êxito, vão-se os sintomas e com eles o desejo. Ao contrário, é preciso encontrar-se com o sintoma já que o Encontro é condição básica para 1-usar os afetos livres para fora da configuração subjetiva dita patológica; 2- desorganizar as formas sociais especializadas em infeccionar as forças ativas. Em ambos os casos, o Encontro não se dá com uma bela alma, mas com a crueza do real múltiplo. Estão e estarão aí, por exemplo, todos os tipos de personalidades anormais que a psiquiatria conservadora engloba sob o código F.60. Ou as histerias, filhas freudianas convertidas ao século XXI e estranhas ao diagnóstico psicanalítico. Ou os pânicos urbanos gritando alto frente à dissolução das certezas do homem tecnológico. Ou as psicoses não especificadas em eus cindidos e aniquilados pelo tempo virtual. Ou corpos descarnados oscilando entre a autoflagelação e o suicídio enquanto formas de se sentirem vivos. O Encontro hoje é, pois, um encontro sem rosto fixo, sem modelo, sem eu, sem consciência, mas ainda assim,e principalmente, um Encontro.
A.M.
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