Poema para lembrar que a morte existe
Pela manhã
Pela manhã
como quatro torradas
cobertas com mel de abelha.
E fico à mesa
onde estão guardados os botões para casacos
me alimentando e dispersando com sopros
as formigas que caminham levando
os restos das torradas.
Eu as vejo andando lentamente
iguais mulheres magras
sobre poentes iluminadas.
Não sei o que pensam
nem o destino da carga que carregam.
Eu fico à mesa
com uma única fisionomia.
Única nas mãos.
Vendo o saco de leite vazio
no colo do gato.
As maçãs apodrecendo sobre
a antepenúltima letra do mês de fevereiro.
A garrafa do café, sem uma gota de café.
Os chapéus e os véus sobre os chapéus.
A casca de banana, sem banana.
E as folhas de chá escondidas
entre uma lua e outra.
Eu como
torradas com mel de abelha.
E conto os dias.
Diariamente eu conto todos os dias.
Sempre pela manhã
quando como
as torradas cobertas com mel.
Celso de Alencar
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