O fim das corujas
Não falo do seu…
Eu falo do fim das corujas.
Eu falo do linguado, da baleia,
na sua casa escura,
o séptuplo mar,
dos glaciares,
que hão de parir cedo demais,
de corvos e pombos, testemunhas emplumadas,
de tudo o que vive nos ares,
nas florestas, dos líquens no cascalho,
do eu seu caminho, do pântano cinzento,
e das montanhas vazias:
Luzindo na tela do radar
pela última vez – avaliado
nas mesas de registro – por antenas
mortíferas são tocados os pântanos da Flórida
e o gelo da Sibéria; animais
e canaviais e lousas, estrangulados
por correntes detectoras, cercados
pela última manobra, inocentes
sob calotas de fogo que pairam no ar,
no tique-taque do caso fatal.
Já estamos esquecidos.
Não se preocupem com os órfãos,
desterrem de suas mentes
os sentimentos garantidos pelo Estado,
a glória, os salmos inoxidáveis.
Não falo mais de vocês,
planejadores da ação sem vestígio,
nem de mim, nem de ninguém.
Falo do que não fala,
das testemunhas sem língua,
das lontras e focas,
das velhas corujas da terra.
Hans Magnus Enzensberger
"... Falo do que não fala,
ResponderExcluirdas testemunhas sem língua,
das lontras e focas,
das velhas corujas da terra."
Hans Magnus Enzensberger
Infelizmente: " ... desaprendemos a sentir a fala da Natureza... "