ESPIRITUAL COMO SAÍDA
Em tempos de capitalismo aparentemente vencedor, o apelo a um suposto mundo "espiritual" torna-se um efeito-subjetivo quase inevitável, invencível. Configura almas bem intencionadas. O já conhecido escapismo platônico-cristão retorna com tudo e instiga doutrinas etéreas e práticas sociais, algumas assistencialistas, outras meros objetos de uma retórica oca. Não importa. É preciso tornar a realidade suportável, e enquanto tal fabricar um sentido para a existência, ainda que esse sentido esteja para além da vida. Este é o mote e o mantra que balizam o caminho da verdade nos dias que correm. As esquerdas (sempre elas...) originalmente interessadas em mudar o mundo, são trespassadas por um niilismo sorrateiro e convincente através da simples observação do caos social. A forma-Religião entope o sujeito com o seu cortejo de culpa e ressentimento.Para completar, uma ideia de progresso (científico?) e salvação (cristã?) vem na esteira de tais processos de subjetivação. As igrejas se multiplicam. Secretam uma espécie de droga da sensibilidade. Freiam e mortificam o desejo. Assim, o domínio da chamada espiritualidade se amplia muitíssimo, ao ponto de se poder dizer e sentir que ela fica como a única saída - ainda que ilusória - contra a destrutividade que assola o planeta azul.
A.M.