domingo, 23 de julho de 2017

PSIQUIATRIA MATERIALISTA

Na medida em que o Caps “herda” o modelo hospitalocêntrico, mesmo que anuncie o inverso, o “fenótipo institucional”  tem uma aparência antimanicomial, ou busca isso, até para justificar a sua existência. A psiquiatria biológica ( a dos psicofármacos, da neuromania e da CID 10)  adentra ao serviço e costuma afrouxar as tensões em torno da suposta periculosidade e estranheza do louco e sua loucura. Não estamos nessa. Cabe dizer que uma psiquiatria materialista compreende “outra” psiquiatria, onde os fluxos de saberes e práticas impulsionam linhas do desejo numa operação de desmontagem da racionalidade científica. Isso em prol de uma semiótica do Encontro que é a própria experiência não médica da loucura.  Trata-se da produção de sentidos múltiplos para a existência, ou mais precisamente, de multiplicidades clínicas. Algo precede o transtorno mental. Não há, portanto, qualquer “superioridade” da psiquiatria biológica, quer epistemológica ou institucional. A sua função na clínica se reduz a um equipamento técnico, no caso, o psicofármaco, indicado em situações contingenciais. “Introduzir o desejo na produção e a produção no desejo” ,conforme dizem Deleuze-Guattari, é a operação de conectar a clínica psicopatológica aos fluxos coletivos que chegam de fora, mas que estão dentro do Caps como sua consistência prática: um corpo de intensidades a ser experimentado e inventado. Quem suporta?

A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário