PSIQUIATRIA MATERIALISTA
Na medida em que o Caps “herda” o modelo
hospitalocêntrico, mesmo que anuncie o inverso, o “fenótipo institucional” tem uma aparência antimanicomial, ou busca
isso, até para justificar a sua existência. A psiquiatria biológica ( a dos
psicofármacos, da neuromania e da CID 10)
adentra ao serviço e costuma afrouxar as
tensões em torno da suposta periculosidade e estranheza do louco e sua loucura.
Não estamos nessa. Cabe dizer que uma psiquiatria materialista compreende “outra” psiquiatria, onde os fluxos
de saberes e práticas impulsionam linhas do desejo numa operação de desmontagem
da racionalidade científica. Isso em prol de uma semiótica do Encontro que é a própria
experiência não médica da loucura. Trata-se da produção de sentidos múltiplos para a
existência, ou mais precisamente, de
multiplicidades clínicas. Algo precede o transtorno mental. Não há,
portanto, qualquer “superioridade” da psiquiatria biológica, quer epistemológica ou
institucional. A sua função na clínica se reduz a um equipamento técnico, no
caso, o psicofármaco, indicado em situações contingenciais. “Introduzir o
desejo na produção e a produção no desejo” ,conforme dizem Deleuze-Guattari, é
a operação de conectar a clínica psicopatológica aos fluxos coletivos que
chegam de fora, mas que estão dentro do Caps como sua consistência prática: um corpo de
intensidades a ser experimentado e inventado. Quem suporta?
A.M.
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