VELOCIDADE DOS NÔMADES
O meio nada tem a ver com uma média, não é um
centrismo, nem uma moderação. Trata-se, ao contrário, de uma
velocidade absoluta. O que cresce pelo meio é dotado de tal
velocidade. Seria preciso distinguir não o movimento relativo do
movimento absoluto, mas a velocidade relativa e a velocidade absoluta de
um movimento qualquer. O relativo é a velocidade de um movimento
considerado de um ponto a outro. Mas o absoluto é a velocidade do
movimento entre os dois, no meio dos dois, e que traça uma linha de fuga.
O movimento já não vai de um ponto a outro, ele se dá, antes, entre dois
níveis como em uma diferença de potencial. É uma diferença de
intensidade que produz um fenômeno, que o solta ou o expulsa, o envia
para o espaço. A velocidade absoluta pode, também, medir um
movimento rápido, mas não menos um movimento muito lento, ou até
mesmo uma imobilidade, como um movimento sem sair do lugar.
Problema de uma velocidade absoluta do pensamento: há sobre esse tema
estranhas declarações de Epicuro. Ou então Nietzsche, não é o que ele
consegue fazer com um aforismo? Que o pensamento seja lançado como
uma pedra por uma máquina de guerra. A velocidade absoluta é a velocidade
dos nômades, até mesmo quando eles se deslocam lentamente. Os
nômades estão sempre no meio. A estepe cresce pelo meio, ela está entre
as grandes florestas e os grandes impérios. A estepe, a grama e os
nômades são a mesma coisa. Os nômades não têm nem passado nem
futuro, têm apenas devires, devir-mulher, devir-animal, devir-cavalo: sua
extraordinária arte animalista. Os nômades não têm história, têm apenas a
geografia.
(...)
Gilles Deleuze e Claire Parnet in Diálogos
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