DEVIR-MULHER
O que chamamos de entidade molar aqui, por exemplo, é a mulher
enquanto tomada numa máquina dual que a opõe ao homem, enquanto
determinada por sua forma, provida de órgãos e de funções, e marcada como
sujeito. Ora, devir-mulher não é imitar essa entidade, nem mesmo
transformar-se nela. Não se trata de negligenciar, no entanto, a importância
da imitação, ou de momentos de imitação, em alguns homossexuais
masculinos; menos ainda a prodigiosa tentativa de transformação real em
alguns travestis. Queremos apenas dizer que esses aspectos inseparáveis do
devir-mulher devem primeiro ser compreendidos em função de outra coisa:
nem imitar, nem tomar a forma feminina, mas emitir partículas que entrem
na relação de movimento e repouso, ou na zona de vizinhança de uma
microfeminilidade, isto é, produzir em nós mesmos uma mulher molecular,
criar a mulher molecular. Não queremos dizer que tal criação seja o apanágio
do homem, mas, ao contrário, que a mulher como entidade molar tem que
devir-mulher, para que o homem também se torne mulher ou possa tornar-se.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs, vol. 4
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