quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O FUTEBOL, SEMPRE

O futebol é trágico. Trágico porque alegre, imprevisível, inexplicável, não se dobra ao modelo quantitativo do seu "acontecer", está além e aquém dos comentários rasteiros de apresentadores pífios, caçadores de audiências imbecilizantes, funciona na ambiguidade do futuro (quem vai vencer?), contém uma estética que precede toda racionalidade orgulhosa de si, trabalha com 90 minutos irreversíveis, joga com a sorte, idolatra o acaso, investe no puro talento, contempla e considera a competência técnica, flerta e se embriaga de arte, é arte, é arte, pura arte, completamente enlouquecedor para torcedores amantes da bola na trave, do verde-gramado, do contra-ataque mortífero, desdenha dos teóricos de carteirinha do jornalismo chifrin, sobrevive aos desmandos e corrupções dos poderes vigentes, surpreende nos minutos de acréscimo aos mais angustiados ou esperançosos torcedores, enfim, por isso e muito mais, o futebol é uma heresia santa, um dilúvio envolvente e enxuto, delírio de multidões, catarse sem igual,  orgasmo público ou apenas um gol sem preço no mercado (não existe gol feio), milhares deles, mesmo que não aconteçam, ainda que sonhados, o futebol é o esporte para além do esporte, uma metafísica encarnada na magia do drible, o gol de cabeça...um amor de criança.


A.M.


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