sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O FIM É O COMEÇO

Com o fim do diagnóstico psiquiátrico (enquanto instrumento terapêutico), restam os grandes conjuntos síndrômicos a balizarem a clínica. Eles surgem de um real atual atravessado pelo horror dos tempos. A morbidade psícossocial aniquila territórios subjetivos no cotidiano das velocidades caóticas. No caso brasileiro, uma opressão oficial sustentada pela democracia representativa traz à luz a sabotagem do desejo. Este sofre por ser interrompido, por não produzir produzindo e daí estancar em linhas patológicas a erosão crônica do Sentido. Em que acreditar? Nada mais resta exceto arcaísmos religiosos tanto quanto arcaísmos escolares, estatais, familiares, acadêmicos, jurídicos e tantos outros. Chamamos de arcaísmo a organização das transcendências (algo para além da vida, dores imaginárias, fantasmas, fetiches, idolatrias, etc) que, no caso da psiquiatria, substituem os verdadeiros problemas, espécie de mecanização tosca do pensamento. A entronização e a reificação do cérebro cumprem, pois, a função de imbecilizar modos de subjetivação (a figura do doutor, por ex.) através da fabricação de pseudo-diagnósticos neurológicos (alguém já viu um cérebro funcionando?) voltados à reparação de circuitos lesionados e à venda de códigos científicos como artigos de fé. Desse modo, o fim do diagnóstico é correlato ao começo de uma era onde tudo é tecnologia de controle ao gosto das populações consumidoras de ordens implícitas.


A.M.

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