sexta-feira, 17 de maio de 2019

O OUTRO LADO

As linhas da existência se mostram lúgubres e humilhadas.Para onde quer que se olhe a grande esfera decadente vegeta em porões da alma. A boca é uma cloaca. Ela arrota a estrada sem rumo. No future. Este se corporifica em chagas invisíveis do corpo extenuado e imóvel num canto do quarto. A existência tece linhas duras, opacas, impossíveis de tocar como se toca uma vida. Um deserto sem fim estende seus campos alargados em veias exangues. O buraco da consciência engole tudo. Fica uma sensação de partida sem partir, de sofrer sem viver, de morte sem morrer. Terrível paradoxo escala os buracos de um rosto pétreo e imenso. Isso não faz piscar o olho encolhido no meio da noite. Silêncio! Ao contrário, a visão se congela e congela o nada. Já não mais se canta a canção livre da passarinhada. Limite zero, superfície rugosa e única, apocalipse, armegedom, fim de mundo. Mas eis que de repente, quase imperceptível, em esboço, um rosto de mulher... se avizinha.

A.M.

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