O desejo maquina entre os corpos e nos corpos. Exposto à luz do dia, mesmo à meia noite, ele é produção incessante, formigamento nem sempre visível ; "o que não tem governo nem nunca terá". Uma criança. Por que a metamorfose? Não há porque, não há de que, aí onde a gratuidade empurra a existência por e para linhas insólitas.A morte não é substantiva, ela é o morrer, verbo infinito, mesmo que se fale de passados ressentidos e/ou futuros impossíveis. Como desejar? Não é fácil, mesmo que pareça. O desejo não é a festa! Antes de tudo as sociedades modernas fizeram e fazem do consumo a produção de territórios estáveis onde alguém se reconhece: este sou eu. No entanto, tal reconhecimento de si é tributário de forças sociais que, de longe bem perto fabricam o eu em seus estratos mais íntimos: meu mundo interior, meu ego, minha subjetividade, meu cérebro, minha profissão, meus títulos, meu saber. A propriedade e a forma das coisas substituem o desejo como produção. Ninguém escuta o que não quer. Prossegue o empreendimento de sabotagem das multiplicidades ; “como dói, mas como é bom”. Isso funciona em toda parte onde existe o produto cristão, a “pessoa humana”., mesmo entre não cristãos.Mas, afinal, onde anda o desejo? Ora, ele costuma ser trocado por dinheiro e transcendências astutas: a Esquerda. Por extensão, as novas gerações aceitam o mundo como o melhor dos possíveis e para o qual não há fora, não há o fora, nem sequer é possível dar o fora. Trata-se de uma espécie de paralisia coletiva do pensamento. Este se revela como técnico-cognição: isso é um celular, isso é um computador, esta é uma lição pedagógico-terapêutica-comportamental: “busque não pensar, busque morrer”. As práticas de vida norteiam-se, então, pelo pensamento da representação: identidades petrificadas, especialismos em oferta, produtos à espera do consumo imediato e serial em shoppings da alma. Proibido viver, pensar, sentir, revolucionar.Um desejo humanizado se imiscuiu em redes sinápticas (ou até em redes internéticas) como caução ao deus-capital quando este inflinge a dor em normas implícitas do bom viver. E o mundo prossegue em busca da salvação.
A.M.
Obs,: texto publicado em 31/12/2014, revisado e republicado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário