sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A IMBECILIDADE PROGRAMADA

A forma-universidade é uma forma de relação social ou uma relação social que se reproduz em metástases intelectuais equivalentes a um modo hegemônico de pensar a Realidade social. Tudo parte de uma Verdade instalada e desejada. Isso tem consequências concretas sobre as cabeças pensantes, ou não, já que os serviços (por exemplo, os de saúde) são utilizados como fontes inesgotáveis de dados (vide pesquisa quanti ou quali) para abastecer teses de doutoramento (ou outras) absolutamente descompromissadas, desconectadas com o devir-social. Este fato é natural, cultivado e naturalizado como Capes, Cnpq, o governo da elite intelectual, o MEC em sua versão humanista. O essencial a reter destas reflexões menores é o de  que a Academia corrobora com brilho o sistema capitalístico universal, ao mesmo tempo em que promove indivíduos inteligentes à serviço de si mesmos e de suas ambições multifacetadas.

A.M.

ANIMAIS NOTURNOS - direção de Tom Ford, 2016

PENSAR DUAS VEZES?

BRASÍLIA - Aos 25 anos, Jayana Nicaretta é a face jovem por trás da campanha do governo para prevenir a gravidez precoce com foco na abstinência sexual. Secretária Nacional da Juventude (SNJ), a engenheira participa das discussões do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos sobre o tema e foi quem sugeriu o lema “Pense duas vezes” como slogan da campanha — a frase definitiva ficará a cargo da empresa de publicidade responsável.
Em entrevista ao GLOBO, Janayna minimizou as críticas e piadas que têm sido feitas sobre a campanha e argumentou que é preciso conscientizar os jovens sobre a “parte ruim” do sexo.
(...)

Paula Ferreira, O Globo, 31/01/2020, 07:31 hs
A DIFERENÇA NA SAÚDE MENTAL - IV

O conceito de loucura norteia o trajeto da diferença num campo (a clínica) que por natureza é desconcertante. Não tem "norte". A sua densidade existencial é regida e composta pelo caos. Isso não significa a crença em "algo ruim"que estaria como um fantasma assombrando as ações humanas. Ao contrário, o caos constitui a diferença exatamente em função das linhas de multiplicidade a brotarem pelos quatro cantos do mundo. Se a saúde mental prioriza a potência de existir (sua ética mais profunda) ela se acha ligada a uma opção política no nascedouro das práticas. Somente a experiência da loucura, vista como processo a um tempo dilacerante e libertador da alma escrava, torna possível ao técnico em saúde mental evadir-se de si mesmo, sair de si, escapar do medo, dar o fora, em prol do Encontro com o outro, o paciente. A diferença é o puro movimento que impulsiona o encontro para além dos enquadres clínicos demasiado conhecidos. No entanto, sabemos, aí reside o perigo da desestabilização brutal da subjetividade. Contra isso, o trabalho da diferença utiliza critérios de aumento ou diminuição das forças de criação, tanto no paciente quando no técnico que o atende. Uma espécie de termostato da potência de criar.

A.M.

Coronavírus: moradores em quarentena cantam nas janelas de Wuhan

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...


Vinicius de Moraes
CORONAVÍRUS GLOBAL

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quinta-feira (30) que os casos do novo coronavírus 2019 n-CoV são uma emergência de saúde pública de interesse internacional. São milhares de infecções na China e em 18 países. Com isso, uma ação coordenada de combate à doença deverá ser traçada entre diferentes autoridades e governos.
(...)

Carolina Dantas, G1, 30/01/2020,16:43 hs

terça-feira, 28 de janeiro de 2020


QUEM É DE ESQUERDA?

O resultado das declarações, ideias e políticas de Damares ainda não são mensuráveis, mas vem agradando parte significativa do eleitorado. É o que diz a mais recente pesquisa Datafolha, de dezembro, na qual Damares é aprovada por 54% do total de evangélicos do país ―eles representam hoje pouco mais de 30% da população brasileira, atrás apenas dos católicos, que ainda são 50% do total. A pesquisa vai além e mostra a pastora evangélica como uma ministra bastante popular, atrás apenas do ex-juiz Sergio Moro, que ocupa da pasta da Justiça, e à frente de Paulo Guedes, ministro da Economia. Conhecida por 55% da população, ela marcou 43% de ótimo bom, 27% regular e 26% ruim/péssima. “Ela é muito forte no Governo e dificilmente cairia. Mesmo que não seja um ícone, reconhecida por toda a população, sua trajetória evangélica traz sensação de reconhecimento”, explica Jacqueline Teixeira, doutora em antropologia social e pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana da USP.

Mais: à diferença dos demais ministros, e guardadas as margens de erro diferenciadas de cada recorte, sua popularidade se distribui mais equilibradamente. Também é forte nos setores populares onde o lulismo é tradicionalmente mais relevante após a passagem do PT pelo Governo. Damares possui o apoio de 39% daqueles que tem renda familiar mensal de mais que dez salários mínimos, 43% de dois a dez salários e 42% entre aqueles com menos de dois salários mínimos. Para efeito de comparação, Sergio Moro, que possui 53% de aprovação na média geral, sobe a 73% na faixa de renda de mais de 10 salários mínimos e desce a 46% na fatia mais pobre. A ministra também pontua bem entre todas as faixas etárias e até entre aqueles que simpatizam com o Partido dos Trabalhadores (PT): 29% dos eleitores petistas também aprovam a ministra.
(...)

Felipe Betim, El País, São Paulo, 27/01/2020, 20:53 hs
Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno.

Caio Fernando Abreu

domingo, 26 de janeiro de 2020

LOUI JOVER


Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor. Dormir, isso que é íntimo. Um homem dorme nos braços de mulher e sua alma se transfere de vez. Nunca mais ele encontra suas interioridades.

Mia Couto
A DIFERENÇA NA SAÚDE MENTAL - III

Sob o universo da diferença, o inconsciente sai da caixinha psicanalítica (o aparelho psíquico) e vai ao mundo. As consequências dessa torção conceitual são grandes. Implica antes de tudo numa mudança de percepção do fato social. Este se torna "interno" ao indivíduo que se diz técnico em saúde mental. Lhe constitui enquanto singularidade voltada ao mundo, ou mais precisamente, à demanda que chega de fora mas que está "dentro" dele e de todos nós: a loucura. O trabalho da diferença é, pois, o trabalho com a loucura, não a loucura-doença mas a-loucura- despedaçamento-do-sentido-da-ordem-social em prol da construção de mil sentidos do viver. Na saúde mental ela opera o mundo e no mundo a linguagem ainda não enunciada, a linguagem oprimida principalmente quando os diagnósticos já estiverem firmados como um destino a cumprir. Tal é a situação por demais evidente da cronicidade em psiquiatria.Na falta de opções terapêuticas para esse estado de coisas, a psiquiatria se torna ela própria crônica.

A.M.

ANTONIO CARLOS JOBIM - Insensatez

NOVAS FORMAS DA ESTUPIDEZA HUMANA

Na segunda-feira se completarão 75 anos da libertação do campo da morte de Auschwitz e seu imenso anexo de Birkenau pelas forças do Exército soviético pertencentes à primeira frente ucraniana. Esses soldados foram testemunhas de um horror indescritível e descobriram o pior da máquina da morte nazista. Na sexta-feira, às vésperas da comemoração oficial da data, que reunirá chefes de Estado e sobreviventes, outro grupo chegava a Auschwitz – transformado em 1947 em monumento e museu e em 1979 em patrimônio mundial da Unesco – para conhecer em primeira mão o espanto. Por volta de setenta espanhóis das mais variadas idades, ainda que com predominância de jovens, embarcavam em Cracóvia em um ônibus turístico que todos os dias organiza a visita ao campo.

A maioria ignorava o aniversário e colocou a excursão como uma extensão de sua estadia na cidade polonesa, o que é bem comum (a ida ao campo costuma ser combinada com a visita às minas de sal de Wieliezka e, de maneira mais pertinente, à fábrica de Schindler, famosa pelo filme de Spielberg). Compartilhar a viagem com esse microcosmos da sociedade permitiu observar como se vive e quais efeitos provoca uma experiência semelhante em pessoas comuns. Geralmente muito impactados pela visita, uma minoria a tomou como mais um destino turístico, selfies incluídas, o que alerta nesses dias de reflexão de que diante do Holocausto e dos crimes nazistas não existe somente o perigo do negacionismo, e sim também o da banalização.

De fato, Auschwitz se transformou em um importante destino turístico, com 2.320.000 visitantes no ano passado, 8% de aumento em relação a 2018, que já marcou um recorde. Como conjugar o grande número de visitas, e o negócio turístico montado ao redor delas (há empresas que incluem um drinque em Cracóvia na volta), com o respeito que merece um lugar que é para todos os efeitos um cemitério (o maior do mundo) e uma das maiores expressões do sofrimento humano na Terra, é um verdadeiro desafio às autoridades polonesas, os guias e os vigilantes do monumento.
(...)

Jacinto Antón, El País,Auschwitz, 25/01/2020, 22:35 hs
CURTO E GROSSO

Jair Bolsonaro só deu uma orientação a Regina Duarte na primeira reunião que tiveram, no Rio de Janeiro: não liberar um centavo sequer para projetos ligados a bandeiras de esquerda, principalmente os relacionados a temáticas LGBT e de diversidade.
(...)

Gabriel Mascarenhas, blog do Lauro Jardim,26/01/2020, 07:00 hs

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A EXPERIÊNCIA POÉTICA

Quem sonda o verso escapa ao ser como certeza, reencontra os deuses ausentes, vive na intimidade dessa ausência, torna-se responsável por  ela, assume-lhe o risco e sustenta-lhe o favor. Quem sonda o verso deve renunciar a todo e qualquer ídolo, tem que romper com tudo, não ter a verdade por horizonte nem o futuro por morada, porquanto não tem direito algum `a esperança, deve, pelo contrário, desesperar. Quem sonda o verso morre, reencontra a sua morte como abismo.
(...)

Maurice Blanchot 

GUIDO LIMA


quando faltou luz
ficou aquele breu e eu
com as mãos tremendo
morta de medo
de tudo se iluminar
de repente


Alice Sant ´Anna
A DIFERENÇA NA SAÚDE MENTAL - II


Para discutir a diferença na saúde mental há uma questão conceitual básica. A "mente" não é o cérebro. Ninguém nunca viu a mente, ninguém nunca pegou, mediu ou pesou a mente. Lidamos com um objeto abstrato, ou seja, com o sem-forma. Para acessá-lo, o método científico da psiquiatria  não só é limitado como muitas vezes se faz nocivo ao paciente. É que em função do lugar de poder que ocupa, o discurso psiquiátrico produz verdades subjetivadas como transtorno mental. Num quadro conceitual que representa a saúde mental como saúde do cérebro, como inserir a diferença? Ora, a diferença concebe a mente enquanto mundo, já que o mundo não tem uma forma única, não tem modelo. Ao contrário e bem mais, o mundo é composto de processos sociais (forças) que se cruzam, se aliam, se destroem, se alimentam, configurando o que chamamos de inconsciente-produção no sentido em que Deleuze-Guattari trabalham. A diferença está imersa no inconsciente. Mais: ela é o próprio inconsciente, bem entendido, não o psicanalítico, mas o inconsciente como o sem-forma (a mente) que se corporifica em práticas sociais concretas (a clínica) tudo isso em incessante produção (os devires).

A.M. 


Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.

Mario Quintana

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

RESISTIR

O conceito de desejo, no pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, é imediatamente prático e, daí, político. É que ele se confronta com as linhas do poder, visíveis ou não. Esta é a grande e insuperável diferença teórica em relação ao pensamento de Freud, Jung, Lacan, e outros menos ilustres. Daí, não há como desejar sem respirar o "ar do social". Desejar é produzir. Mesmo em tempos subjetivos considerados intimistas, "interiores", há sempre o social  como multiplicidade coletiva entranhada, imiscuida, inserida nos corpos. Isso é real, este é o real. Sua resposta mais direta é (ou deveria ser) uma inserção ético-estética na experiência do mundo, resistir ao poder via a potência dos afetos.

A.M.

NTR Podium: Lavinia Meijer speelt Philip Glass

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: - Senhoras e senhores, eu sou um canalha.

Nelson Rodrigues

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

DE “TRÊS EPIFANIAS TRIVIAIS”

II

As coisas que te cercam, até onde
alcança tua vista, tão passivas
em sua opacidade, que te impedem
de enxergar o (inexistente) horizonte,
que justamente por não serem vivas
se prestam para tudo, e nunca pedem

nem mesmo uma migalha de atenção,
essas coisas que você usa e esquece
assim que larga na primeira mesa —
pois bem: elas vão ficar. Você, não.
Tudo que pensa passa. Permanece
a alvenaria do mundo, o que pesa.

O mais é enchimento, e se consome.
As tais Formas eternas, as Idéias,
e a mente que as inventa, acabam em pó,
e delas ficam, quando muito, os nomes.
Muita louça ainda resta de Pompéia,
mas lábios que a tocaram, nem um só.

As testemunhas cegas da existência,
sempre a te olhar sem que você se importe,
vão assistir sem compaixão nem ânsia,
com a mais absoluta indiferença,
quando chegar a hora, a tua morte.
(Não que isso tenha a mínima importância.)


Paulo Henriques Britto

JOHN MARIN


A DIFERENÇA NA SAÚDE MENTAL - I

O campo da saúde mental é atravessado por múltiplos saberes e práticas. Daí, ser necessário uma abordagem para além de "multidisciplinar", ou seja, "transdisciplinar". Isto significa que os saberes dissolvem as suas fronteiras metodológicas no sentido de conectarem e se misturarem uns aos outros a partir de critérios extraídos da clínica. A clínica é o real em si mesmo. Ela se compõe de multiplicidades nas linhas atuais da configuração singular dos quadros ditos patológicos. Assim, não há uma verdade prévia, nada está dado de uma vez por todas (por ex. o sofrimento psíquico), nada está pronto (o diagnóstico fechado)já que o dado psicopatológico (que é o que importa) nos chega trazido por mil conexões etiológicas e terapêuticas. A saúde mental opera o mundo. Então é a saúde do mundo o que está em questão, expressa no delírio, na angústia, na melancolia, etc. O paciente é esse mundo a ser descoberto e transformado.

A.M.
 Aprendimentos

O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura
é o caminho que o homem percorre para se conhecer.
Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim
falou que só sabia que não sabia de nada.
Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas
di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas
das árvores servem para nos ensinar a cair sem
alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado
sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente
aprender o idioma que as rãs falam com as águas
e ia conversar com as rãs.
E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos
do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de
ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros
do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara
nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver,
no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar.
Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens.
Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno
grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite!
Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles —
esse pessoal.
Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova.
Píndaro falava pra mim que usava todos os fósseis linguísticos que
achava para renovar sua poesia. Os mestres pregavam
que o fascínio poético vem das raízes da fala.
Sócrates falava que as expressões mais eróticas
são donzelas. E que a Beleza se explica melhor
por não haver razão nenhuma nela. O que mais eu sei
sobre Sócrates é que ele viveu uma ascese de mosca.

Manoel de Barros

sábado, 18 de janeiro de 2020

Universo  da   diferença

                                                                                            
Nada é  estável.  Mesmo  a natureza,  com  seu cortejo teológico (produto humano)  anexado à crença numa “maternidade”, é  mutante e fluida.  Mãe-natureza, você  nos  socorre?  Nada.Não  há garantias, salvação ou igualdade de  direitos. Quem estabelece os direitos? A natureza é em essência cruel e indeterminada, ainda que bela. Esqueça a moral. O argumento da prática é o empírico invisível e fugidio. Defensores do estado (e do mercado) se pegam em discursos intermináveis e abstratos. Eles querem mais é  controlar a natureza. Ao contrário,  o universo   da diferença não tem controle, não tem  cronos, não tem consciência.Tudo é artifício. O caos se avizinha num tom musical. Aproveite.A questão é a da vida. Encontrar quem o socius    codificou como o excluído, mesmo que, pela via da ciência, seja o incluído. As palavras iludem  e  fazem de um problema, a solução. Inverta a  frase: faça  da solução um problema. Nada a  compreender,  mas a aceitar, a conectar, a captar, a sentir. Quem  delira espaços, culturas,  povos,  cidades, políticas e a abertura do  cosmos?  Quem habita zonas produtivas e povoadas do inconsciente?  Como chegar às angústias do seu  mundo? A psiquiatria tipifica um megafracasso. A psicanálise,  arrogante,  brocha. Estamos a buscar espíritos sensíveis sem o  bom senso do cristianismo secular.  Traçar linhas da existência onde o capitalismo vacila.  Investir um risco infinito: afinal,  quem é você?  Não uma identidade, estou  certo. A hora do  sonho cedeu  lugar à exigência  de uma  tarefa clara. Foi ao banco? Pagou suas contas?  O  coração da gente é o de uma rua da metrópole. Hoje, o alimento dos deuses do capital fez de órfãs entranhas edipianas:  escravizaram-nas. Resistir, sim, resistir na medida em que nasça o inumano em nós. Estar  em carne, mesmo em espírito. Viver de paradoxos. Não estar à margem, mas ser a margem.Pertencer ao universo que deixa o tempo entoar canções sem dono. A psiquiatria não quer isso.  Ela odeia a diferença. Não combina. Tem ares de um saber espúrio.Tampouco a sociedade estabelecida. Ela se alimenta  de narcisos. Há boas intenções, sabemos. Sempre há. Afinal, o humanismo marcou nossos gens. Mas um riso sem motivo tornou-se o motivo do riso. A hora do acontecimento se aproxima. 

A.M.

Batucada boa - Grupo Percepção

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

RÁPIDO E RASTEIRO

Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.

aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.


Chacal

PAVEL MITKOV


NAZISMO: VIVAS À MORTE

Ele é um dos nazistas menos apreciados pelos admiradores do regime, e com o perdão do sarcasmo, que era uma de suas figuras retóricas favoritas. Joseph Goebbels, um dos mais notórios líderes do III Reich, foi descrito como o Mefistófeles do partido, demagogo vil e dissoluto e, menos finamente, de coxo satânico e anão raivoso. Victor Klemperer o define em seus diários como "o mais venenoso e mentiroso de todos os nazistas". Goebbels (Rheydt, 1897-Berlim, 1945, que cometeu suicídio e teve o corpo chamuscado —não conseguiram queimar de todo o seu corpo— no Führerbunker) provavelmente foi o propagandista mais famoso da história. Tinha pouco mais de um metro e meio e sofria desde criança de atrofia e paralisia crônica do pé direito, o que causava comentários irônicos sobre sus perorações a respeito da superioridade da raça ariana, na qual generosamente se incluía. Seus defeitos físicos (e não falemos morais) não o impediram de desfrutar de inúmeras aventuras sexuais, que registrava prontamente em seu diário, e ganhar a merecida fama de lascivo. Porta-voz de Hitler, antissemita radical impiedoso, gauleiter de Berlim, ministro de Propaganda do regime mais atroz da história da humanidade, Goebbels, o Savonarola pardo, era um pregador fanático da violência nazista e sua trilha fumegante pode ser seguida desde as brigas de rua até a declaração de guerra total.
(...)

Jacinto Antón, El País, Barcelona, 7/01/2020, 13:49 hs
Roberto Alvim cita ministro nazista em pronunciamento e gera revolta

Até a trilha sonora usada no discurso fez com que os internautas comparassem com a divulgação de uma propaganda nazista
Roberto Alvim, Secretário Especial da Cultura, causou revolta entre os internautas na madrugada desta sexta-feira, 17, após a divulgação de um pronunciamento no Twitter. Em sua fala, o político do governo Bolsonaro copiou trechos de discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler(...)

Catraca Livre,17/01/2020, 08:17 hs

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

NDT Season trailer 2019-2020

Disse Jesus: Felizes os pobres, porque deles é o Reino dos céus.
Que pobres são estes que são felizes por serem merecedores do Reino do Céus? Certamente não está se referindo a pessoas que não têm patrimônio algum. Tenho observado que o simples fato de ser pobre não significa ser santo. Em termos espirituais tanto pobres como ricos podem ser bons ou maus. A mesquinhez pode ser encontrada em todo segmento social. Nos ricos, por baixo do verniz que dá brilho, encontramos a rústica madeira da mesquinhez, enquanto nos pobres essa madeira já pode ser encontrada desprovida de verniz. Ambos são maus. Acredito que Jesus quando se refere a pobre esteja a se referir a uma pessoa desapegada dos bens materiais. E essa pessoa tanto pode ser pobre como rica. Os pobres no meu entender são aquelas pessoas que lutam pelo ser e não pelo ter.

Carlos Machado

Dark music - Memories by Nave Artificial

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

TRAIR É CRIAR

Usando Elias Canneti do livro “Massa e Poder" (1960), é possível identificar a “doença” do poder: a paranóia. Há sempre, de fato, na medida e no miolo das correlações de forças, uma circulação de desconfiança a priori, um incentivo ao medo, um convite à fobia, uma expectativa angustiante, uma melancolia disfarçada, um pânico frente à desordem, enfim, a grande suspeita contida numa peça sem autoria e, daí, sem sujeito. Quem é o poder? A paranóia não é individual, e sim coletiva, mesmo que surja em alguém isolado. Há regimes significantes eternizados como suplícios dos dominados. Veja o caso dos Estados e das Igrejas. Esta parece ser a regra que a história timbrou, ou finge que. Pode ser o rei, o presidente, o papa, o príncipe, o chefe de estado, o prefeito, o governador, figuras de autoridade, os poderosos... O que importa é que eles se inserem em modos de subjetivação como verdades dadas e contabilizadas, a depender dos rumos da política. Qualquer um pode ser qualquer um, todos são todos, desde que o poder funcione como maquinaria produtora de um gosto por viver e que se nutra de linhas institucionais endurecidas. Desconfia-se de tudo e de todos e vice-versa; instala-se o clima necessário a dizer e sentir “eu posso tudo”. “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, o filme de W.Herzog (1972), ilustra bem o liame poder-paranóia como delírio do infinito: a sequência final é emblemática. Assim, é possível, no caso da psiquiatria, detectar todo um sistema de paranóia embutido na CID-10 como lógica persecutória. Isso funciona no território movediço dos afetos de uma clínica verticalizada. A psiquiatria tem poder porque é fraca. Como diz Nietzsche, "é preciso defender os fortes dos fracos".O poder produz, alimenta-se de mil produções subjetivas, delira sem delirar, delira naturalmente. A contrapartida à vivência persecutória seria, pois, a traição à ordem instituída da razão, à ordem instituída do transtorno mental, à ordem instituída do estado, à ordem instituída de todas as ordens. Trata-se de um modo e de um estilo de experimentar a passagem do tempo que não volta: a irreversibilidade em ato.

A.M.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O príncipe e a megera


Um príncipe

com casa, carro, filho & pensão

relógio de pulso

perfume importado



quarentão

bem-arranjado

até grisalho



fosse eu

e tudo isso

seria

defeito



Ana Elisa Ribeiro
SERÁ?

Um avião ucraniano caiu nas primeiras horas desta quarta-feira, perto do Aeroporto Internacional Imam Khomeini, a 30 quilômetros ao sul de Teerã, matando 176 pessoas (entre passageiros e tripulação). Segundo agências, a aeronave, um Boeing 737 que voava pela companhia aérea Ukraine International Airlines (UIA), entrou em colapso logo após decolar da capital do Irã devido a problemas técnicos, em uma noite marcada pelo bombardeio do governo iraniano a duas bases no Iraque onde há presença de tropas norte-americanas.
As circunstâncias do incidente são desconhecidas.
(...)

María R. Sahuquillo, El País, Teerã, 08/01/2019, 12:21 hs

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

EMIL NOLDE


O TEMPO NA PSICOTERAPIA

Na prática da psicoterapia aprendemos que o tempo é o tecido da vida. Este dado aparece muito claro no processo de mudança existencial que toda terapia, em maior ou menor grau, promove. Os modos de subjetivação (estilos de viver) tornam-se concretos na medida em que a experiência de si e do mundo se mistura ao tempo-desejo sem forma, numa palavra, aos devires incontroláveis. O corpo que não aguenta mais. Isso implica na abertura de linhas desejantes criadoras de sentido. Portanto, o tempo, assim como H. Bergson o definiu, "é criação ou não é nada". Uma psicoterapia, a que acolhe signos múltiplos oriundos da ciência, da filosofia e da arte, se instala em territórios refratários aos dilemas da consciência. Assim, para muito além da psicanálise, a qual explora ad nauseam um inconsciente representativo, edipiano e familiarista, o método da diferença capta afetos impossíveis de sonhar, mas passíveis de metamorfoses rumo a um outro viver. Isso impõe riscos. Contudo, há regras de prudência (cf. G. Deleuze) elaboradas no interior de uma ética da alegria e de uma estética do novo. Desfaz-se o tempo como alta do tratamento (conceito médico) para uma implicação profunda e inadiável do paciente com a sua própria alma, ou seja, consigo mesmo.


A.M.
OS CÁLCULOS INCORRETOS

(...)
A diferença não é o diverso. O diverso é dado. Mas a diferença é aquilo pelo qual o dado é dado. É aquilo pelo qual o dado é dado como diverso. A diferença não é o fenómeno, mas o númeno mais próximo do fenómeno. É, portanto, verdade que Deus fez o mundo calculando, mas os seus cálculos nunca estão corretos; e é mesmo esta injustiça no resultado, esta irredutível desigualdade que forma a condição do mundo. O mundo «faz-se» enquanto Deus calcula; não haveria mundo se o cálculo fosse correto. O mundo é sempre assimilável a um "resto" e o real no mundo só pode ser pensado em termos de números fracionários ou mesmo incomensuráveis. Todo o fenómeno remete para uma desigualdade que o condiciona. Toda a diversidade e toda a mudança remetem para uma diferença que é a sua razão suficiente. Tudo o que se passa e aparece é correlativo de ordens de diferenças: diferença de nível, de temperatura, de pressão, de tensão, de potencial, diferença de intensidade.
(...)

Gilles Deleuze in Diferença e Repetição

Situation - Hans van Manen (NDT 1 | Soir Historique)

SALMO PERDIDO

Creio num deus moderno,
Um deus sem piedade,
Um deus moderno, deus de guerra e não de paz.

Deus dos que matam, não dos que morrem,
Dos vitoriosos, não dos vencidos.
Deus da glória profana e dos falsos profetas.

O mundo não é mais a paisagem antiga,
A paisagem sagrada.

Cidades vertiginosas, edifícios a pique,
Torres, pontes, mastros, luzes, fios, apitos, sinais.
Sonhamos tanto que o mundo não nos reconhece mais,
As aves, os montes, as nuvens não nos reconhecem mais,
Deus não nos reconhece mais.


Dante Milano

DOIS PAPAS - direção de Fernando Meirelles, 2019

POR ACASO

Tanto em psicopatologia clínica como na vida, trabalhar com o conceito de "encontro" significa evitar qualquer humanismo, explícito ou disfarçado. Isto porque a noção de "pessoa humana" (própria do humanismo) está atrelada a uma forma social identitária. Fala-se em "pessoa" como sendo um valor absoluto. Ao contrário, pensar o encontro, não como um substantivo mas como um verbo, é o que nos conduz ao acontecimento "encontrar". Na esteira dos pensadores da diferença, encontrar é, antes de tudo, conectar mundos possíveis em meio à estranheza dos movimentos afetivos (desejos). Impulsionado pelo que faz viver, pelo que é viver, o encontro traça linhas existenciais sem garantias prévias. Neste sentido, encontrar é criar possibilidades ao novo, mesmo pequenas e até imperceptíveis. Por isso, retirar o encontro de um "encontro entre pessoas" assegura a imanência do acaso, o qual não está determinado por nenhuma vontade do eu, tampouco de uma instância metafísica superior. Esse é o mote para se pensar . Óbvio que é um exercício perigoso. Mas não é assim a vida?

A.M.
Nunca soube por que tanta gente teme o futuro.
Nunca vi o futuro matar ninguém,
Nunca vi o futuro roubar ninguém,
Nunca vi nada que tivesse acontecido no futuro.
Terrível é o passado ou, pior, o presente!

Millôr Fernandes

Carinhoso - Yamandú Costa e público

A LEI DA SELVA

Qasem Soleimani não era exatamente o que podemos chamar de um anjo da paz. Basta perguntar às populações do Iêmen, Síria ou Iraque, muitas das quais aliviadas com sua morte. O Governo do Irã é de fato um elemento de extrema instabilidade e reprime sua própria população em nome do poder.

Mas o assassinato em um território estrangeiro por um drone pilotado centenas de quilômetros de distância abriu uma outra questão entre governos estrangeiros: a maior democracia do mundo ainda tem algum respeito pelo direito internacional?

Além das consequências que a tensão entre os Irã e EUA podem abrir a partir de agora, nos círculos internacionais a constatação é de que o ato que inaugura a nova década pode servir como o marco da consolidação da lei da selva no cenário internacional. E as consequências podem ser dramáticas para populações em diferentes partes do mundo.
(...)

Jamil Chade, El País, 06/01/2020, 21:51 hs

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

MENTE ABERTA

Pensar sobre o sofrimento mental de alguém implica na existência de uma concepção de" mental" pressupondo o ato de pensar. Em tempos de hegemonia da neuropesquisa, "mental" acaba sendo identificado ao cérebro. Uma equação simples é estabelecida: mental=cerebral. Ora, isso é verdade tão só na perspectiva biomédica. Um paciente "mental" pode se beneficiar com o uso de psicofármacos ou terapêuticas assemelhadas. Até aí, nenhum problema. O problema começa quando o cérebro, importante órgão, passa a ser considerado como a causa maior de todas as patologias mentais. E mais, como sendo o objeto único da psiquiatria clínica. Nada disso. Ao redor do cérebro e atravessando-o estão os signos e os fluxos que chegam de toda a parte. Isto, sim, é o que produz a mente. E vem de fora, da sociedade, da cultura, do cosmos, etc. 

A.M.

domingo, 5 de janeiro de 2020

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou neste domingo (5) a ameaçar o Irã de ataques caso o país busque vingança pela morte do general Quassem Soleimani. No Twitter, ele disse que pode revidar "talvez de forma desproporcional" se algum americano for atingido pelo país persa.
(...)

Por G1, 05/01/2020, atualizado há uma hora
onde anda a política
que muda?
onde  anda a muda
que floresce?


A. M.

HENRY ASENCIO


A PASSAGEM

Há um limite a partir do qual a diferença não se reconhece e não mais reconhece o mundo. Um horror tão extremo e definitivo se instala: ela, a diferença, torna-se pequena e frágil. Tudo o indica. Fala-se da história da humanidade: uma brochada cósmica. A diferença não mais reconhece aí a palavra "vida" por entre escombros da própria vida. Resta o império do medo. Internético, ele assombra o dia que nasce. Assombra todas as revoluções. Nivela os afetos. Aniquila a política. Uma melancolia compõe a paisagem dos monstros da História. E os adorna. Seguidores nutrem-se da morte camuflada. Anunciam o fim, apocalipse moderno. No entanto, algo resiste... 

A.M. 
Ser amigo de alguém é uma questão de percepção. Não é a partir de idéias em comum, mas de uma linguagem em comum. Há pessoas sobre as quais posso afirmar que não entendo nada do que dizem. E outras que falam de um assunto totalmente abstrato, que eu posso não concordar, mas compreendo. Tenho uma hipótese: cada um de nós está apto a entender um determinado tipo de charme. Ninguém consegue compreender todos ao mesmo tempo. Há uma percepção dele: um gesto, pensamento - mesmo antes que este seja significante, um pudor de alguém são fontes de charme que têm tanto a ver com a vida, que vão até as raízes vitais e imediatamente você acha que aquela pessoa é sua - não no sentido de propriedade, mas é sua e você espera ser dela. Neste momento nasce a amizade.

Gilles Deleuze

Hans Zimmer - Interstellar Theme (Live in Prague)

sábado, 4 de janeiro de 2020

OS CÚMPLICES

Nenhum autoritarismo se instala ou se mantém sem a cumplicidade da maioria. É o que a história nos ensina. Não haveria nazismo sem a conivência da maioria dos alemães, os ditos “cidadãos comuns”, nem a ditadura militar no Brasil teria durado tanto sem a conivência da maioria dos brasileiros, os ditos “cidadãos de bem”. O mesmo vale para cada grande tragédia em diferentes realidades. Os déspotas não são alimentados apenas pelo silêncio estrondoso de muitos, mas também pela pequena colaboração dos tantos que encontram maneiras de tirar vantagem da situação. Em tempos de autoritarismo, nenhum silêncio é inocente —e toda omissão é ação. Esta é a escolha posta para os brasileiros em 2020. Diante do avanço autoritário liderado pelo antidemocrata de ultradireita Jair Bolsonaro, que está corroendo a justiça, destruindo a Amazônia, estimulando o assassinato de ativistas e roubando o futuro das novas gerações, cada um terá que se haver consigo mesmo e escolher seu caminho. 2020 é o ano em que saberemos quem somos —e quem é cada um.
(...)

Eliane Brum, El País, 01/01/2020
DESDE SEMPRE EM MIM

Contente. Contente do instante
Da ressurreição, das insônias heroicas
Contente da assombrada canção
Que no meu peito agora se entrelaça.
Sabes? O fogo iluminou a casa.
E sobre a claridade do capim
Um expandir-se de asa, um trinado
Uma garganta aguda, vitoriosa.
Desde sempre em mim. Desde
Sempre estiveste. Nas arcadas do Tempo
Nas ermas biografias, neste adro solar
No meu mudo momento
Desde sempre, amor, redescoberto em mim.

Hilda Hilst
TECNOLOGIA DA IMAGEM: CLÍNICA E POLÍTICA 

Sobre a "tecnologia da imagem" e seus atravessamentos corporais vamos à análise da demanda em saúde mental. O corpo (não o corpo-organismo, mas o corpo-desejo) é atingido em cheio por imagens-de-imagens, fazendo do contato consigo mesmo uma experiência plugada aos fluxos semióticos vindos de fora, mas parecendo vir "de dentro". É que a forma das instituições sociais (cf Guattari e outros) está interiorizada, subjetivizada num inconsciente que não mais passa por categorias edipianas mas por categorias planetárias, portanto, capitalísticas. A tecnologia da imagem torna-se um território de sentido de uma verdade subjetiva. Esta é veiculada por equipamentos de poder. Daí o homem moderno encarnar uma espécie de sonambulismo coletivo que a todos arrasta. A incrível aceleração da velocidade do tempo aniquila o Sentido. Efeitos práticos: na clínica, a psicose. Na política, o fascismo.

A.M. 

A obsessão pela igualdade se converte em algo negativo quando imobiliza a possibilidade de se construir diferenças no interior dos processos sociais. Em outros termos, pode-se dizer que a igualdade é uma espécie pharmakon, “que pode se tornar veneno quando associada não a uma produção, mas um imperativo, e a um imperativo que sempre incumbe porta-vozes privilegiados."
(...)

Isabelle Stengers,  O Tempo das catástrofes, 2015
Os homens são da Terra, as mulheres são da Terra. Lidem com isso.

George Carlin

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

JOSÉ MARÍA MADRID SANZ


A MARÉ VAI E VOLTA

A morte do general iraniano Qasem Soleimani em um ataque americano em Bagdá, por ordem do presidente dos EUA, Donald Trump, é uma "escalada extremamente perigosa e imprudente", advertiu nesta sexta-feira o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif.

"Soleimani se uniu a nossos irmãos mártires e nossa vingança sobre a América será terrível", tuitou Mohsen Rezai, um antigo chefe dos Guardiões da Revolução, o exército ideológico da República Islâmica.

O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, se comprometeu a "vingar" a morte de Soleimani e decretou três dias de luto nacional no país.

"O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes anos (...) Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com seu sangue e a de outros mártires", afirmou o aiatolá Khamenei em sua conta no Twitter em farsi.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, também prometeu vingança."Não há nenhuma dúvida sobre o fato de que a grande nação do Irã e as outras nações livres da região se vingarão por este horrível crime dos Estados Unidos", declarou Rohani em um comunicado.

UOL, 03/01/2019, 01:25 hs

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Clínica dos afetos - II

A clínica dos afetos poderia ser chamada "clínica da diferença" ou "clínica das multiplicidades". A opção por "afetos" deve-se à estratégica de análise da psicopatologia que sustenta (ou deveria) a psiquiatria clínica. Veja: um paciente (qualquer...) está sob influência incessante de forças que se traduzem no corpo, na alma, na conduta, na existência enquanto afetos, intuições, sentimentos, tendências, emoções, impulsos, instintos, quer sejam criadores e/ou destrutivos. Tal perspectiva metodológica busca eliminar a visão do transtorno mental como evento extra-territorial (fora do meio em torno) o que faz por encaixotá-lo em modelos enrijecidos, frios, assépticos, desnaturados, seja o da visão médica, seja o de outras metodologias como a da terapia cognitivo-comportamental (TCC), sem dúvida, um monumento ao conformismo tornado ciência. Uma clínica dos afetos começa com os afetos em jogo postos pelo próprio técnico em saúde mental. O que Freud chamava de contratransferência pode ser ampliado por uma atitude de implicação ético-estética no que acontece ao Outro, sabendo que este Outro somos nós.

A.M.

Hans Zimmer - Time (Inception - Live in Prague)