OS CÚMPLICES
Nenhum autoritarismo se instala ou se mantém sem a cumplicidade da maioria. É o que a história nos ensina. Não haveria nazismo sem a conivência da maioria dos alemães, os ditos “cidadãos comuns”, nem a ditadura militar no Brasil teria durado tanto sem a conivência da maioria dos brasileiros, os ditos “cidadãos de bem”. O mesmo vale para cada grande tragédia em diferentes realidades. Os déspotas não são alimentados apenas pelo silêncio estrondoso de muitos, mas também pela pequena colaboração dos tantos que encontram maneiras de tirar vantagem da situação. Em tempos de autoritarismo, nenhum silêncio é inocente —e toda omissão é ação. Esta é a escolha posta para os brasileiros em 2020. Diante do avanço autoritário liderado pelo antidemocrata de ultradireita Jair Bolsonaro, que está corroendo a justiça, destruindo a Amazônia, estimulando o assassinato de ativistas e roubando o futuro das novas gerações, cada um terá que se haver consigo mesmo e escolher seu caminho. 2020 é o ano em que saberemos quem somos —e quem é cada um.
(...)
Eliane Brum, El País, 01/01/2020
Não sei exatamente por que, mas senti um desconforto "orgânico" tamanho ao ler esse texde. Como parte de uma "maioria "desgovernada", órfã de um governo "ideal", me senti julgada por cumplicidade e conveniência com as tragédias humanas. "Cada um terar que se haver consigo mesmo e escolher seu caminho... Em tempo de autoritarismo, nenhum silêncio é inocente..." Parecem até passagens "condenatórias" de um texto bíblico (Cada um dará conta de seus atos, silêncios e omissões).
ResponderExcluirSerá que a Eliane tem um iPhone?
Que Deus nos proteja dos homens "maus".
Entendo um pouco o seu "desconforto".
ResponderExcluirO discurso da chamada Esquerda é por vezes carregado de ressentimento e ímpeto julgador e condenatório indiscriminados...