SAÚDE MENTAL E RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA
Como foi dito, a descrição do conceito de saúde mental se dá a partir de vários ítens. Um deles é o da "residência terapêutica". Trata-se de um serviço para pacientes que sofreram os efeitos de internações prolongadas (anos) em manicômios. Eles se corporificam no chamado "hospitalismo" . É uma condição institucional que segue e constitui a psiquiatria desde o século XIX, produzindo uma espécie de "segunda natureza" psíquica no paciente, doença sobreposta a outra doença. Não a forma-pessoa e sim a forma-doença, eis o cenário que predomina. Tal percurso histórico do horror ético tornou-se naturalizado, normatizado, gerando as "rostidades" por demais conhecidas do paciente crônico, morto-vivo vagando nas enfermarias, estado residual, morador dos hospícios, seres desumanizados em nome da razão científica. Essa é uma longa (e trágica) discussão que foge aos objetivos desse breve artigo. O que queremos sinalizar é simples: a função da residência terapêutica, inserida na história dos manicômios, é o lugar da desinstitucionalização do cuidado, se é que antes havia cuidado. Isso remete ao trabalho atual com o paciente na busca de sentidos existenciais implícitos ( o que é viver? para que viver? por que viver? como viver? etc) levando-o a situações práticas, concretas, cotidianas. Um aprendizado. Assim, a residência é bem mais que um espaço físico, e sim um espaço vivencial onde conta o imprevisível e o novo. Há, portanto, uma linha importante de experimentação técnica da equipe de saúde mental. Ela vai (ou deve ir) para além dos códigos psiquiátricos obsoletos. Um desafio.
A.M.
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