CONCEITO DE SAÚDE MENTAL
O conceito de "saúde mental" constitui a essência da prática de um caps. Mesmo que não esteja explícito e/ou não operacionalizado, é o que move (ou deveria mover) o trabalho técnico. Vamos tentar descrevê-lo em dez ítens (poderiam ser mil, cem mil...). 1-"Saúde mental" se refere a um bem estar subjetivo inserido no conjunto das circunstâncias (condições) que chamamos de mundo; "mental" não é "cerebral", ainda que o cérebro seja um órgão, digamos, nobre. 2- O mundo é composto de instituições (família, escola, religião, estado, casamento, etc) e daí a saúde mental é avaliada junto ao funcionamento das instituições presentes em cada caso. É um conceito singular e mutável. 3-A saúde mental inclui, engloba a saúde do organismo (sistema de órgãos) do qual a medicina se ocupa (rins, fígado, coração e demais). Este organismo é essencial, mas não não é o objeto da pesquisa e da clínica em saúde mental. 4- Como a psiquiatria é uma especialidade médica, é importante descolar o conceito de saúde da psiquiatria (bom funcionamento do cérebro e adequação aos códigos sociais) do conceito de saúde mental (produtividade social, laboral e autonomia existencial). Dito de outro modo, separar a "saúde do cérebro" da "saúde da mente". 5- O cérebro, óbvio, é um órgão visível, palpável, mensurável. A mente é invisível, impalpável e não mensurável. Quem disser que já "viu, palpou ou mediu" a mente pode estar sofrendo de algum transtorno. 6- A técnica em saúde mental é regida por princípios éticos que valorizam a potência de viver uma clínica das singularidades de cada caso. Dai o uso do diagnóstico como função terapêutica e não como essência cadastrada (CID-10). 7- A posição antimanicomial é apenas um linha de combate que inspira e compõe as práticas em saúde mental. Há outras que não dizem respeito aos muros do manicômio. São linhas invisíveis que constituem o hospício-em-nós. 8 - A saúde mental é uma saúde da alma no sentido de lidar com o sem-forma. Ou seja, trabalha sem crenças a priori (preconceitos) de quem é o paciente. Retira o conceito de exame e põe no lugar o de "Encontro" não só com a pessoa do paciente, mas com tudo que lhe rodeia, o determina e o coage. 9- Saúde mental é um conceito que opera situações essencialmente práticas interferindo numa vida e mais que isso, produzindo uma vida. Daí floresce numa ética do cuidado em oposição às redes institucionais envelhecidas ( corações manicomiais são apenas um exemplo banal). 10 - Concluindo, promover a saúde mental é promover a auto-saúde mental. A implicação numa clínica psicopatológica aberta ás determinações (causas) múltiplas do sofrimento mental é a base para o trabalho (duro) do dia-a-dia num caps.
A.M.
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