domingo, 7 de novembro de 2021

O que é delírio?

Delírio é um dos principais sintomas em psicopatologia clínica. Numa visão biomédica, deve ser  eliminado,  como, por exemplo, se faz com uma dor de cabeça.

Ou ainda, segundo essa visão, remete a uma causa, a qual sendo eliminada, cessa o efeito (sintoma). Relação linear causa-efeito. A face tosca da "inteligência psiquiátrica."

Tanto num caso como noutro, a compreensão "do que é delírio" está falseada. Não conduz ao essencial que é cuidar do paciente. Leva apenas ao controle e à violência maquiada.

Mas, afinal, o que é isso, o delírio?

Delírio é uma vivência em que o juízo da realidade (de si e do mundo) está alterado. Mais profundamente significa dizer que uma outra realidade foi inventada. Trata-se de uma crença.

O que está em jogo então é a verdade. Pergunta-se: isso é verdade?

A questão da verdade abrange todos nós.A verdade vem de fora. Desde muito cedo nossos pais  enfiam verdades em nossas mentes. Acreditamos, claro, sem questionar. E mais: a crença (qualquer uma) vem sempre acompanhada de um afeto. A crença na família, na escola, na pátria, em Deus, etc...

Delirar talvez seja acreditar no que ninguém ou poucos acreditam. A arte, a filosofia e a ciência fazem isso.

E por que surge o caráter patológico, ou seja, aquilo que conduz à busca de uma ajuda clínica? Lembremos que nem sempre o delirante quer ajuda. Isso é fácil de verificar.

De todo modo, o delírio em saúde mental remete a várias causas e formas clínicas. Os quadros mais graves são os que o paciente nem mais delira já que é o próprio delírio. São as psicoses por vezes chamadas de esquizofrenias.

A rigor, qualquer patologia mental pode apresentar delírio. Ou mesmo qualquer vivência mental não patológica ( desilusão amorosa, a morte de alguém querido, um trauma existencial) pode  gerar um delirio.

O capítulo sobre delírio em psicopatologia é muito extenso. Convém destacar aqui o aspecto vivencial que o aproxima do normal ou do patológico.

Neste sentido o delírio do paciente pode estar próximo ao "delirio" do técnico que o acompanha. Esse fato nem sempre ocorre, claro, mas serve como linha comum do Encontro com a loucura, conforme exposto em texto anterior.

Concluindo, o delírio está em toda a parte onde há alguma crença. E sempre há. Ele compõe a realidade do mundo (veja a política...) e nem por isso  risperidona e haldol lhes são prescritos. Só para delirantes cadastrados.

A.M.



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