segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O que é psiquiatria?  parte 2

Uma especialidade diferente essa.

Tudo porque não apenas é especialidade médica, mas instituição.

Do ponto de vista epistemológico, ela está plugada às ciências biológicas e às ciências humanas.  No primeiro caso, o organismo físico-químico. No segundo, a realidade social. Trata a realidade social como organismo físico-químico.  Trocou as bolas.

É uma especialidade ancorada em pilares teóricos de naturezas diferentes. Vive num paradoxo.

Sua condição de ser uma especialidade pode ser ampliada para a de instituição social. É que a pesquisa lida com um universo simbólico no qual a própria especialidade está inserida. 

Tal condição “institucional” normalmente é ignorada pelos psiquiatras e similares. Muito difícil que fosse diferente.

Como instituição ela codifica as pessoas. Daí, estas não precisam ser psiquiatras para pensar, sentir e agir como um. 

Atrelada à visão biomédica do comportamento humano em suas alterações (o chamado transtorno) a psiquiatria estanca numa reflexão teórica rasa, onde não consegue sequer definir com precisão o que é uma psicose.

Em essência, esse é o fundo da  "sua"epistemologia. Um conhecimento atolado na moral.

“Loucura”, conceito não-médico, converte-se ao de “transtorno mental”, termo naturalizado como distúrbio da mente igual à distúrbio do cérebro. A equação conceitual cérebro=mente estabelece, então, a partir da década do cérebro, a última do século XX , fortes razões científicas para um “admirável cérebro novo” que toma o lugar da psicopatologia.

Quanto ao aniquilamento desta última, há testemunhas: os pacientes.

Ai, então, a neurociência se fez impecável. Uma psiquiatria atual, acolhida como ciência do cérebro e surda à fala do sofrimento mental, conquistou o mercado.

No entanto, o cérebro mente.


A.M.


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