10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO - 14
21 DE MAIO DE 2013
Do lado direito de quem entrava no Caps, a área verde se mostrava em contraste com a extensão de um corredor largo cuja geografia era simples. Salas de um lado e do outro erguiam trilhos para um andar reto. Este funcionava silencioso, como se diz, lúcido, pragmático, orientado, e estava bem ali. Fincava no peito ingênuo estacas do limite: normal/anormal, sanidade/loucura. Isso, claro, era invisível. Notei porque vim depois, e a área verde invadiu (numa visão delirantemente bela) o imaginário da saúde mental. Tal invasão se dava ao custo de viagens clínicas em prontuários sobre a mesa. Intensas e secretas, entre um atendimento e outro, elas eram reais, tão reais como a oficina de arte produzindo uma vida leve e doce. Viajava só e tão só no mesmo lugar de psiquiatra para a equipe. Já era muito. Um consultório no corredor, um corredor como via única para decifrar a loucura daqueles dias. Ou os dias daquela loucura serviam para deslocar o foco da análise? Qual o lugar do novo? Manicômios nunca mais? Difícil responder na medida em que as correntes forçadas do pensar marcavam os passos da razão política vinda de fora. E que se dobravam sobre o serviço na busca da publicidade dos méritos privados. Nessa época, a traição à psiquiatria se fez arte de viver numa linha de fuga impossível. Médico, use o disfarce.
A.M.
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