A TRAPAÇA UNIVERSITÁRIA
A forma-universidade (e não a organização-universidade) é um conceito da análise institucional que faz pensar a universidade (qualquer uma) como forma de relação social oriunda da Idade Média e "vitoriosa" nos dias atuais. É possível, assim, falar de uma subjetividade acadêmica como produção de sentido. Difícil contestá-la. Sob o respaldo de verdades conceituais prontas (recheadas de princípios) legitima-se a intelectualidade contemplativo-narcísica atual. Apesar disso, ou por causa disso, a realidade dominante é criticada em teses tão brilhantes quanto condenadas ao bolor. É que não se trata do intelecto mas dos afetos. Estes costumam ser aniquilados. Numa operação organizacional urdida em programas de mestrado e doutorado, a forma-universidade escurraça o desejo: devires imperceptíveis, incontroláveis, sensibilidades finas, realidades reais, singularidades múltiplas, intensidades criativas, saberes menores, rebeldias, loucuras não-médicas. A universidade faz da diferença (que é o pensar por si mesmo) uma maldição. Você já discutiu (divergindo) ideias com um acadêmico, um pesquisador, um professor? Melhor não. Trata-se aí de uma representação esperta da realidade social, um teatro moral agenciado pela máquina acadêmica que diz: não afirme nada, não arrisque nada, não sinta, não crie, aceite o que a razão transcendente enfiou no seu corpo desejante. Diga amém ao capitalismo como religião da mercadoria. Apesar disso, algum dia serás doutor em qualquer coisa, tanto faz.
A.M.
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