A EXPERIÊNCIA POÉTICA
"Quem sonda o verso escapa ao ser como certeza, reencontra os deuses ausentes, vive na intimidade dessa ausência, torna-se responsável por ela, assume-lhe o risco e sustenta-lhe o favor. Quem sonda o verso deve renunciar a todo e qualquer ídolo, tem que romper com tudo, não ter a verdade por horizonte nem o futuro por morada, porquanto não tem direito algum à esperança, deve, pelo contrário, desesperar. Quem sonda o verso morre, reencontra a sua morte como abismo". O texto de Blanchot traz a poesia para o cotidiano. Neste sentido, pode-se questionar: seriam poetas só os que escrevem versos? Não, porque a poesia não remete a uma profissão, a um ofício, a um campo intelectual, acadêmico, coisas da razão esperta, nem mesmo a um estilo de viver. Ao contrário, remete ao abismo insondável do sem-sentido, aquilo que está fora da linguagem, indizível, mas que é dito e adquire sentido como sensação de viver e de não apenas sobreviver. Assim, a experiência mais banal é vivida na rareza de um corpo intensivo que é o próprio desejo como uma gratuidade impessoal. Isso ultrapassa as dimensões estreitas de um eu identitário (quem você é?) e faz da experiência poética a dissolução (ainda que transitória) dos códigos da percepção consciente (os signos significantes).
A.M.
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