TEMPO DE ELEIÇÃO
Chega a hora das eleições, mas o tempo não passa. Ou, pelo menos, não salta, digamos, para um outro universo de sentido, onde o homem comum possa dizer: “enfim, algo novo”. O homem comum é o que está em contato com a experiência do cotidiano (no trabalho, nas ruas, nos serviços, nas casas, etc) e por isso expressão de um tempo que não passa. Mas que, apesar de tudo, passa.
Terrível paradoxo o envolve no cumprimento da sobrevida para viver ao invés do desejo de viver, ou apenas viver, viver.
Chega a Hora. É a do horário eleitoral gratuito, pelo qual o homem da cidade paga. E muito. Mas de nada adianta desligar o rádio ou a TV, pois as palavras do candidato ecoam para além dos fluxos eletrônicos, disseminando pela cidade a trama monstruosa do invisível poder visível. Tudo conflui para a produção íntima de uma subjetividade votante. A Publicidade faz a sua parte no negócio.
Como escolher?
Escolher um candidato passa a ser uma ação que oscila no mercado das ofertas clientelísticas conforme razões de mando e comando do poder econômico em sua face mais risonha (todos riem...) e cínica. Com os pobres, os inferiores, os miseráveis, a palavra vira repetição automática. Ou não vira, não vira (no sentido em que se diz “esse carro não vira”), permanecendo em seu lugar o refrão interminável dos dias da servidão “consentida”.
No fim, que é o começo, não só a Cidade é enfeada, desfigurada com banners e muros sombrios. É toda a cena da disputa que é, assim, onde você decide, cidadão,a não decidir.
A.M.
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