SOBRE O "BORDERLINE"
(...) (...) Retornemos ao borderline: ele pode ser considerado como a instabilidade em pessoa concretizada em impulsos violentos e tão surpreendentes quanto danosos ao outro. Os afetos parecem vir em estágio bruto e numa corredeira sem freios. O encontro é com um chão movente. Não há um ou mais problemas, mas uma problematização contínua. Não se trata de um mero jogo de palavras. É toda a inserção no mundo, e mais, o seu mundo constituído que é o da instabilidade afetiva. Ao falar de si num tom de passado e no fulcro das relações afetivas, fica evidente o dado assombroso que é o da inexistência de um território onde enganchar a relação pessoal, um vínculo. Um vazio brutal lhe constitui. Um paciente afundado na solidão? Não é possível vê-lo desse modo, pois seria fincar a estaca da moldura humanista sobre uma alma em desgoverno.O encontro com a loucura não é um exame das funções psíquicas nem do comportamento observável. O encontro é um devir, aquilo que tenta captar do paciente fluxos do desejo. O paciente não se reduz ao eu, ainda que este esteja preservado. Ele consegue falar, dizer como está, conversar. Seu corpo oscila entre uma inexpressão e uma expressividade dramática. Contudo, a dramaticidade não é “fingida”. Assume seu discurso com se fosse ele próprio levado por uma onda de emoção. Adiante, sem que se lhe estimule, estanca o ritmo e se faz imóvel numa atitude que suscita dúvidas. Elas oscilam entre o que diz de si e o que se esconde em dobras subjetivas opacas. O borderline é um ser errante de difícil ajuda pelo aparelho biomédico. Talvez seja usado algum remédio químico. Aí ele se curva para além das dobras a que aludimos. Torna-se paciente de um cansaço adicional (a sedação) ante saídas difíceis da problemática.
(...)
A.M.
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