terça-feira, 30 de outubro de 2012

SOBRE O "BORDERLINE"

(...) (...) Retornemos ao borderline: ele pode ser  considerado  como a instabilidade em pessoa  concretizada em impulsos violentos e tão surpreendentes quanto danosos ao outro. Os afetos  parecem vir em estágio bruto e  numa corredeira sem freios. O encontro é com um  chão movente.  Não há um  ou mais  problemas, mas  uma problematização contínua. Não se trata de um mero jogo de palavras. É toda a  inserção no mundo, e mais, o seu mundo constituído que é o da instabilidade afetiva. Ao falar de si num tom de passado e no fulcro das relações afetivas, fica evidente  o  dado assombroso que é o da inexistência  de  um território   onde enganchar a relação pessoal, um vínculo. Um vazio brutal lhe constitui. Um paciente afundado na solidão? Não é possível  vê-lo desse modo,  pois seria  fincar a estaca da   moldura humanista sobre  uma alma em desgoverno.O encontro com a loucura não é um exame das funções psíquicas nem do comportamento observável. O encontro é um devir,  aquilo   que  tenta  captar do paciente fluxos do desejo.  O paciente não se reduz ao eu, ainda que este esteja  preservado. Ele consegue falar, dizer como está, conversar. Seu corpo oscila entre uma inexpressão e uma expressividade dramática. Contudo, a dramaticidade não é  “fingida”. Assume seu discurso com se fosse ele próprio levado por uma onda de emoção. Adiante, sem que se lhe estimule, estanca o ritmo e se faz imóvel numa atitude que suscita dúvidas. Elas oscilam entre o que diz  de si e o que se esconde em dobras subjetivas opacas. O borderline é um ser errante de difícil ajuda pelo aparelho biomédico. Talvez  seja  usado algum remédio químico. Aí ele se curva para além das dobras  a  que aludimos. Torna-se  paciente de um cansaço adicional  (a sedação)  ante saídas  difíceis  da problemática. 
(...)
A.M.

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