"Até para Freud o corpo era a morada do diabo. Nele residiam as paixões, que se opunham à razão luminosa e benigna. Com a revelação freudiana ele se transforma no oposto. Porque ela deixa evidente um fato. Podemos nos enganar sobre nossos desejos mas não quanto à forma que nos sentimos.
O sentir-se bem, mal, pesado, leve etc, passa a desempenhar o papel de referência de verdade porque é em torno dele que se reconstrói o estar no mundo do analisando; A eficácia dessa estratégia verificada na prática corrói os pilares que sustentam a hegemonia da razão consciente. Na sua queda, ela leva consigo o fundamento ético da dominação de classe (baseada na classe dominante "esclarecida" conduzindo os que vivem na escuridão).
Esta descoberta radicalmente inovadora é escondida por uma manobra inteligentíssima como quase tudo o que devemos a Freud, ou seja, sua recusa em considerar uma psicologia psicanalítica, mantendo a psicanálise como um tratamento e uma psicopatologia que consegue transformar o virulento inconsciente em um animal de laboratório, ou melhor, de divã.
Assim o elefante desaparece num passe de mágica. O diálogo não se dá entre a psicanálise e a civilização mas entre o analista e seus louquinhos."
André Gaiarsa
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