O desejo maquina entre os corpos e nos corpos. Exposto à luz do dia, mesmo à meia noite, ele é produção incessante, formigamento nem sempre visível ; "o que não tem governo nem nunca terá". Uma criança. Por que a metamorfose? Não há porque, não há de que, aí onde a gratuidade empurra a existência por e para linhas insólitas.A morte é o morrer, verbo infinito, mesmo que à volta se fale de passados ressentidos e/ou futuros impossíveis.Como desejar? Não é fácil, mesmo que pareça. Antes de tudo as sociedades modernas fizeram e fazem do consumo a produção de territórios estáveis onde alguém se reconhece: esse sou eu. No entanto, tal reconhecimento de si é tributário de forças sociais que, de longe, fabricam o eu em seus estratos mais íntimos: meu mundo interior,meu ego, minha subjetividade, meu cérebro, minha profissão, meu tudo. A propriedade e a forma das coisas substituem o desejo como produção. Ninguém escuta o que não quer. Prossegue o empreendimento de redução das multiplicidades a afetos encaixotados, represados e “como dói, mas como é bom”. Isso funciona em toda parte onde vive a chamada “pessoa humana”. Mas, onde anda o desejo? Ele costuma ser trocado por dinheiro e transcendências astutas: a Esquerda. Em contrapartida, as novas gerações aceitam o mundo, o melhor dos possíveis e para o qual não há fora, o fora, nem sequer é possível dar o fora. Trata-se de uma espécie de paralisia coletiva do pensamento. Este se revela como técnico-cognição: isso é um celular, esta é uma lição pedagógico-terapêutica-comportamental: “busque não pensar em morrer”. As práticas de vida norteiam-se pelo pensamento da representação: identidades petrificadas, especialismos. Um desejo escorre e explode (falemos do saber do paciente) em redes sinápticas (ou até em redes internéticas) enquanto o deus-capital dita normas implícitas do bom viver. E o mundo rasteja em busca da salvação.
(...)
A.M.
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