quinta-feira, 28 de março de 2013


O FÁRMACO-ROSTO

A clínica psicopatológica tornou-se a clínica psicofarmacológica. Isso não é um mal em si, mas um fato da cultura médica que incide sobre o trabalho com o paciente. Em termos  empíricos, o próprio  paciente torna-se um produto de forças institucionais; elas fabricam a clínica e por extensão o paciente. Tais forças  se explicitam na  psiquiatria,  são  a  psiquiatria. No espaço do atendimento, do exame, do encontro com o paciente, elas se concretizam como rostidade farmacológica. É um regime de aparência corporal, semiótica, que traça uma linha terapêutica antes mesmo de começar o tratamento. As psicoses, por excelência, são  objeto desse processo de rostificação. A cena extremada,  o paciente  impregnado por neurolépticos (alterações  extra-piramidais)  e outros signos menos perceptíveis, compõem a visibilidade do espaço clínico. Assim, fazer psiquiatria nos dias atuais tem  a opção farmacológica como palavra de ordem: prescreva mais e mais remédios químicos. Isso não  vale apenas para os que estão científico  e juridicamente autorizados a  fazê-lo, mas para todos os que lidam com a loucura. Nosso foco pode ser a chamada “equipe técnica” em saúde mental. Todos medicam,  todos estão medicados, medicalizados numa produção subjetiva  inconsciente e incessante. Isso é de uma tal obviedade que se esconde em cotidianos naturalizados. Uma espécie de ordem  programada se impõe como desejo psiquiátrico único e totalizante (...)

A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário