(...) (...) Estar com o paciente é entrar em contato com os fluxos caóticos da subjetividade. Podemos chamá-los de loucura no intuito de borrar os limites entre o patológico e o não patológico. Por que isso é necessário? É que sob a ótica da “diferença”, os conceitos se interpenetram neste sentido - “loucura – subjetividade - transtorno mental” e não “transtorno mental – subjetividade – loucura” como reza a concepção biomédica. Colocar a loucura como primado da condição psicopatológica implica numa atitude de aceitação incondicional do paciente como subjetividade que vem de fora, do mundo, do cosmos, do universo. A loucura é o nosso operador conceitual na medida em que não se detém em limites fixados pela idéia de razão. A psicopatologia prescinde da razão como princípio norteador, usando-a como linha molar, endurecida, conforme vimos. A razão não é, pois, um mal em si. Ela é sintetizada na produção desejante como um elemento a mais. Trata-se de um agenciamento de desejo . O trabalho da clínica é complexo porque se relaciona com a não-clínica, daí com a crítica. O conceito de subjetividade do paciente está ligado diretamente à subjetividade dos que estão à sua volta. É neste sentido que a clínica é um sistema aberto inserida em processos institucionais que a atravessam todo o tempo. Assim, os processos subjetivos são fragmentários e fragmentados, conectando-se com as linhas de um universo virtual. Isso não depende da orientação teórica adotada, mas de critérios ético-políticos inscritos na natureza do Encontro. Uma subjetividade a-subjetiva significa antes de tudo que ela não está fechada sobre si, ainda que em expressões patológicas extremas , como na catatonia, no autismo, etc. A-subjetivo implica em se ver o portador de transtorno mental como “portando” um mundo, este sim, um transtorno não necessariamente bom ou mau, mas como um Encontro gerador de estados de potência ou impotência.
A.M.
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