domingo, 24 de março de 2013

O TRABALHO DA CLÍNICA

 (...) (...) Estar  com o paciente é entrar  em contato  com os  fluxos  caóticos da  subjetividade. Podemos  chamá-los de loucura no intuito de borrar os limites  entre o patológico  e o não patológico. Por que isso é necessário?  É que sob a ótica da  “diferença”, os  conceitos se  interpenetram neste sentido - “loucura – subjetividade - transtorno mental” e não  “transtorno mental – subjetividade – loucura” como reza  a concepção  biomédica. Colocar  a  loucura como primado da condição psicopatológica implica numa atitude de aceitação incondicional do paciente como subjetividade que vem de fora, do mundo, do cosmos,  do universo. A loucura é o nosso operador conceitual  na  medida em que  não se  detém em limites  fixados  pela  idéia  de  razão. A psicopatologia prescinde  da  razão como  princípio  norteador, usando-a como linha molar, endurecida, conforme vimos. A  razão  não  é, pois, um mal  em si. Ela é sintetizada  na  produção  desejante como  um  elemento  a mais. Trata-se de um agenciamento de  desejo . O trabalho  da  clínica  é complexo porque  se  relaciona com a não-clínica, daí com a crítica. O conceito de subjetividade do paciente está ligado diretamente à subjetividade dos que estão à sua volta. É neste sentido  que a clínica  é um sistema  aberto inserida em processos institucionais que a atravessam  todo  o tempo. Assim, os  processos  subjetivos  são  fragmentários e fragmentados,  conectando-se com as  linhas  de  um universo virtual. Isso  não depende  da orientação teórica  adotada, mas   de   critérios  ético-políticos inscritos  na  natureza  do Encontro. Uma  subjetividade a-subjetiva  significa  antes de tudo que  ela não está fechada sobre si, ainda que em expressões  patológicas   extremas , como  na  catatonia, no autismo, etc. A-subjetivo  implica em se ver o portador  de transtorno mental como “portando” um mundo, este sim, um transtorno não necessariamente bom ou mau, mas como um Encontro  gerador de  estados  de potência  ou impotência.

A.M.

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