sábado, 16 de março de 2013


Mãos dadas 

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. Seu Jorge foi mendigo. Sim, morou na rua. Foi mendigo. E aí? Vai dizer o que? Que Seu Jorge é burro?

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  2. Ora bolas, só existem quatro coisas certas. Um, um dia nós iremos morrer. Dois, tudo passa. Três, os problemas são todos - sem exceção - sociais. Quatro, se a sela não está no seu couro, você não sente o peso de quem monta em você. O resto, dane-se.

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