(..) (...) O uso das neuroimagens (tomografia computadorizada, ressonância magnética funcional e tomografia por emissão de pósitrons), que revolucionaram e impulsionaram as neurociências, possibilita interpretações distintas e nada neutras (ORTEGA,2006), transformando um laudo médico em fonte de pesquisa análoga aos prontuários psiquiátricos e processos criminais já utilizados pelos historiadores. Apesar de Rosen (2006) salientar que os resultados das pesquisas em neurociências indicam correlações que, mesmo sendo importantes, não podem afirmar causações, esses resultados são freqüentemente mostrados como auto-evidentes.
Apesar de Rosen (2006) salientar que os resultados das pesquisas em neurociências indicam correlações que, mesmo sendo importantes, não podem afirmar causações, esses resultados são freqüentemente mostrados como auto-evidentes.
Hoje até mesmo a área de marketing faz uso dessas técnicas para descobrir preferências de carros ou refrigerantes. Imagens são linguagens específicas e a sua interpretação e forma de divulgação denotam um saber estruturado que deve gerar outras interpretações e estruturações. O que não quer dizer que o espectador seja passivo diante do que vê, pois analisa as informações de acordo com as suas vivências e preconceitos.
Cada área da ciência produz recortes no objeto de estudo por necessidade metodológica (não necessariamente ideológico-consciente), o que pode ou não significar um reducionismo. Mas pela interpretação desses dados por áreas de interdisciplinaridade, ou pela excessiva simplificação midiática em sua divulgação, muitas incompreensões e conflitos de posicionamentos são gerados. Desde as bancas de jornal até a televisão, encontramos discussões sobre o funcionamento do cérebro. Assuntos dele emersos, como o mal de Alzheimer, a doença de Parkinson, a anorexia , o transtorno de défict de atenção e hiperatividade, o alcoolismo, a agressividade etc., impactam nossas vivências cotidianas e institucionais, no âmbito da família, da educação, dos sistemas de saúde e da segurança pública e até da segurança militar. O cérebro deixa de preocupar apenas aos neurocientistas, que estudam células, moléculas, comportamento e cognição, e torna-se interesse dos profissionais das áreas da saúde, de inteligência artificial, incluindo mesmo artistas gráficos e programadores visuais, que precisam entender os conceitos sobre a percepção das e cores e dos movimentos (LENT, 2005).
(...)
Rita Cristina C. de Medeiros Couto - do texto Da importância de Estudos Históricos no Campo da (s) Neurociência(s)
A autora é doutora em Ciências na área de História Social da USP.
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