SOBRE A DIFERENÇA
(...) (...) O advento de uma diferença, porém, exige que o ser negue o nada que lhe constitui, e a determinação então gerada não pode deixar de reeditar a contraposição essencial entre ambos: "O ser determinado subsume essa oposição, e essa diferença entre o ser e o nada em seu próprio núcleo define a fundação das reais diferenças e qualidades que constituem a sua realidade."8 Na verdade, não se trata exatamente de oposição porque o nada é componente do ser, forma com ele uma unidade que se manifesta como existência em qualquer determinidade. Hardt explica que essa condição da determinação define-se pela negação tanto na direção do contraste — o conjunto finito das qualidades que se opõem reciprocamente de modo automático e passivo (uma determinação difere de todas as outras determinações) — quanto na direção do conflito — do combate dinâmico praticado pelas diferenças entre si e que envolve a perspectiva de um exercício de engajamento numa posição de atividade devido às relações causais existentes entre os elementos constituintes da determinidade: neste nível, "a existência de algo é a negação ativa de algo mais".9 A importância de sublinhar esse segundo sentido da presença da negação na determinação reside no fato de que ele torna explícito o movimento negativo que define o ser determinado, inclusive quando considerado de modo estático: o estado "determinado" já é em si dinâmica da negação. O processo de determinação nega o nada do ser, mas o faz considerando-o, pois, para Hegel, sem ele, teríamos a plena unidade da substância (Espinosa) e nenhuma diferenciação: "(...) o ser não determinado pela negação permanecerá indiferente e abstrato e, finalmente, uma vez que não é posto como diferente de seu oposto, desaparecerá no nada."10 Noutras palavras, só seria possível pensar o processo lógico de produção da determinidade mediante a negação da negação.
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Alessandra Sales
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