segunda-feira, 15 de abril de 2013


Devires      

O paciente vive entristecido pela Grande Máquina. Sua alegria  foi aniquilada  em plena  vigília.  Do nada. Ninguém assume a autoria dos pequenos crimes. Eles são administrados em nome da  paz  de espírito. Ora, o espírito também caga. Avise aos últimos palhaços que a arte foi  solapada em nome do ideal dos homens de branco. Ao que  me consta, nada  mudou no sulco das  bocas. Elas falam rachando dentes. Mastigam auroras nati-mortas. Mas o Rosto carrega  uma expressão justa, como negar? A bondade natural dos  humanos. Ó Lovecraft,  socorrei! Apenas uma cidade  respirando um arco-íris, manda por favor... Não falo por  mim. Por  mim, ó... Falo pelo que não sou, falo por devires. Escutai a canção do mundo... Você  dança? O paciente sucumbe à Ordem. Por favor, o senhor pode me dizer as horas? Já vai tarde o tempo dos mestres, com todo o respeito. Sonâmbulos da própria dor, como  falar aos que não falam? A  Grande Máquina é uma pequena dose de benefícios a curto e médio prazo. Ela se insinua na febre dos corredores infectos. Um susto, um sus. Tudo é contágio. Resistir à morte, querida, e fazer dessa vibração algo novo, será  possível? Talvez um devir-amante imerso em trepadas millerianas. Bicho,  perdoa o jeito canino: o que é necessário para viver por viver? Pacientes são pacientes demais. Armaduras químicas, lições de casa, manuais de sobrevivência, coisas simples, eles são normais. Eu queria um gosto de sol em você, em suas dores mais intensas e irremediáveis. Pena que a sombra dos quintais do passado  anuncie sessões de tortura regadas à dinheiro. A entrega é às oito. Todos estarão  lá, até o chefe da  Facção Sinistra, aquele mesmo que  começou a seduzir a multidão com truques de  falar  macio.  Não   tem jeito. Somos  inocentes radicais.

A.M.

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